Popularidade, aspecto descolado e sabores diferenciados atraem jovens. Especialista aponta os perigos do vaping
Tão comum quanto frio no inverno, ou calor no verão, são as rodinhas de estudantes nas instituições de ensino superior.
Em uma dessas concentrações, um aluno na casa dos 30 anos puxa um dispositivo do bolso e o leva até a boca. Ele traga e solta a fumaça. “É um cigarro eletrônico”, explica, se dirigindo aos colegas. “Ele ajuda a parar de fumar o cigarro tradicional, sem deixar louco”, menciona. Ele fazia referência as crises de abstinência que podem afetar fumantes que tentam parar.
Um dos colegas então o responde. “Como não que não deixa louco? Você está fumando uma caneta”, brinca.
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A cena em questão, apesar de ter ocorrido com jovens com mais de 18 anos e em um contexto descontraído, chama a atenção para uma situação que cada vez mais preocupa especialistas da área da saúde. Os cigarros eletrônicos e a falsa imagem de que são diferentes dos tradicionais.
Com fama de descolado, esses dispositivos que também são chamados de vape, trazem erroneamente a imagem de que não causam danos à saúde, ou ainda, que fazem “menos mal” que o cigarro tradicional.
Entretanto, eles não são isentos de riscos para quem os usa e não há consenso entre pesquisadores de que ele é menos danoso do que as demais formas de fumar.
Cheiro, aroma e facilidade de uso são atrativos
Rita (a entrevistada preferiu que não fosse compartilhado seu verdadeiro nome), de 27 anos, explica que teve o primeiro contato com esses dispositivos ainda aos 17.
“Na época era modinha, e como já era consumidora de narguilé, a ‘canetinha’ dava menos trabalho. Era muito mais fácil carregar no bolso, ligar e fumar”, conta a jovem.
Uma década atrás, os dispositivos estavam só começando a chegar no Brasil, mas já eram proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
A Resolução da Diretoria Colegiada número 46 do órgão, de 2009, não permite a comercialização desses dispositivos pela falta de dados científicos que provem a segurança do uso.
Apesar da proibição, o acesso a esses produtos e seus acessórios ainda é fácil. E isso ocorre tanto em lojas físicas, como tabacarias, quanto pela internet.
Consumo entre adolescentes é perigoso
Nos Estados Unidos, o vaping, como é chamado o ato de consumir cigarros eletrônicos, é um problema ainda mais urgente.
Segundo dados da Associação Médica Americana, 1 a cada 5 adolescentes em idade escolar fazem o uso.
Os jovens utilizarem produtos como esse pode ser bastante perigoso, é o que afirma a pneumopediatra, Mariana Saciloto. “A longo prazo pode causar DPOC, que são as doenças pulmonares obstrutivas crônicas. Outras sequelas são a enfisema pulmonar, bronquite, asma e pneumonias”, cita ela.
A médica ainda faz o alerta a consequência mais conhecida dessa prática. “Fora os riscos de cânceres relacionados ao tabagismo, que são o de boca, laringe, esôfago, pulmão, entre outros”, complementa.
A especialista ressalta ainda que em muitos casos, as essências utilizadas dos produtos possuem nicotina, que pode causar dependência.
Mesmo nos casos em que não há presença da substância, essa pode ser uma porta para o vício em tabaco. Isso acontece porque que estimula o hábito de fumar.
Vaping e Maconha podem ser fatais
Em alguns casos, os usuários fazem uso de essências com THC, ou colocam uma certa quantidade de erva no dispositivo.
Rita afirma que já consumiu a droga dessa forma. “Não senti garganta arranhando e o sabor do vape é bem mais suave comparado ao do baseado”, conta.
A sensação para quem usa pode até ser melhor, mas os riscos de complicações são maiores.
“De uns anos para cá surgiu uma pneumonia com insuficiência respiratória bem importante em adolescentes e adultos jovens. Eles fumavam cigarros eletrônicos contendo os componentes de maconha. Casos sérios que levaram alguns desses jovens a óbito”, destaca a Dra. Mariana.
A doença recebeu um nome próprio, o Evali, que é a sigla para E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury, em tradução livre seria algo como lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping.
Segundo o Centro de Controle de Doenças Americano, o CDC, até fevereiro de 2020, data que foi divulgado o último levantamento, 68 pacientes perderam a vida em decorrência dessa doença. São quase 3000 casos de hospitalizações naquele país.
No Brasil, o site de notícias The Intercept fez uma pesquisa por dados obtidos através da Lei de Acesso à Informação, encontrando sete casos de notificação desse mal.
É importante ficar de olho nos adolescentes
Inalar fumaça, seja direta, ou indiretamente, por meio de cigarro ou vape, não é uma boa prática. “Mesmo que muitos adolescentes falem que não fumam, que só tem essência no narguilé, não torna isso menos ruim. Qualquer substância irritativa que você inala tem problema para o pulmão. Fora que o hábito do tabagismo piora no futuro”, avalia a especialista.
Ela cita alguns pontos que os pais podem prestar atenção para evitar que seus filhos tenham acesso a esses dispositivos:
- Ficar de olho nas companhias;
- Prestar atenção às compras dos filhos;
- Cheiro nas roupas e demais objetos de uso diário;
- Comportamento fora do comum.
A fumaça é nociva para quem dela faz uso e para as pessoas em sua volta. “Fumar causa perda da função pulmonar no longo prazo. O tabagismo secundário também está relacionado a vários problemas nas pessoas que convivem, então tem o mesmo risco de câncer. Crianças que vivem com adultos que fumam têm mais asma, têm mais pneumonia, mais infecções respiratórias. Esse hábito é totalmente contraindicado”, finaliza Mariana.
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