Precisamos falar sobre isso, sem a presença de tantos tabus

Vivemos no século XXI, a evolução faz parte de nossas vidas, todos os dias temos que aprender ou se reconectar com algo novo, e por que quando o assunto é sexo, que existe desde os primórdios da existência humana, ainda há tanta vergonha e preconceito. Para falar abertamente sobre sexo, sem preconceitos e sem tabus, nada melhor do que entrevistar uma especialista no assunto. Você confere a seguir a  entrevista exclusiva com a educadora sexual, psicóloga clínica e jornalista, Laura Müller para a Revista Mais Saúde.

Revista Mais Saúde – A partir de que idade é aconselhável falar sobre sexo com as crianças?

Laura – Segundo os parâmetros curriculares nacionais, a partir dos seis anos de idade a escola já deve ter o tema sexualidade como transversal no ensino, e continuar com esse tema até a adolescência, isso já é sugestão desde 1997. Mas em casa também é preciso ter abertura para falar sobre sexualidade desde que surgem as primeiras perguntas.

Revista Mais Saúde – Por que o sexo ainda é um tabu?

Laura – Vivemos séculos de uma repressão sexual muito forte, hoje já estamos muito mais abertos, já se fala mais abertamente sobre sexualidade, mas ainda é um assunto tabu na nossa cultura por conta dessa repressão dos séculos passados.

Revista Mais Saúde – A mulher é considerada a quem tem menos desejo sexual em relação aos homens. Como é essa diferença entre o desejo sexual feminino e masculino?

Laura – Hoje já se tem mulher se permitindo sentir desejo, se permitindo ter orgasmos, mas ainda temos uma grande parcela de mulheres que relaciona sexo como algo negativo, com algo errado, com algo sujo, e isso influi negativamente no desejo. Mas se formos ver os potenciais, tanto do homem quanto da mulher, ambos têm potenciais iguais de sentir desejo, o que comanda mesmo é a cabeça, então, se as pessoas estão se sentindo bem com a sexualidade, aí o desejo vem.

Revista Mais Saúde – Qual é a diferença entre o orgasmo clitoriano e o vaginal?

Laura – Não há. O orgasmo é um só, e são pequenas contrações que começam dentro do útero, passam por todo canal da vagina e terminam no clitóris, essas contrações acontecem rapidinhas (0,8 segundos), elas compõem uma série de reações de prazer nos genitais, e essas reações de prazer quando chega ao ápice é o orgasmo.

Revista Mais Saúde – Como funciona a pílula rosa, o viagra feminino?

Laura – Não posso te responder sobre isso, não sei. Está chegando agora e os médicos ainda estão estudando, então não sei se vai ou não funcionar realmente para de fato favorecer o desejo feminino.

Revista Mais Saúde – O que a mulher pode fazer para aumentar a libido?

Laura – Olhar para sexualidade de uma forma mais positiva, conhecer os mecanismos de prazer dela, entender que não tem nada de errado, nada de sujo ela viver a sexualidade, e sim respeitar. Respeitar nossos limites, nossas possibilidades, nossos desejos e nossas expectativas, e também respeitar a pessoa que está ao lado, quando temos esse jogo de respeito mútuo e a si mesmo, a sexualidade é vivida com muito mais prazer.

Revista Mais Saúde – Por que o sexo anal atrai tanto o desejo dos homens?

Laura – É também um assunto tabu na nossa cultura, o proibido atrai mais. Então já houve uma época, séculos atrás, que só podia fazer sexo com penetração vaginal, a moral da época no século XVII, XVIII, só permitia fazer sexo para a reprodução, sexo anal, sexo oral, masturbação, eram consideradas práticas que não podiam, e até hoje carregam uma série de tabus, e esse proibido estimula a imaginação.

Revista Mais Saúde – E se a mulher não gostar (sexo anal) e o homem gostar?

Laura – Aí precisamos entender que sexo não é um só dando prazer para o outro sem sentir, é uma troca. Aí entra a questão do respeito mútuo, então se um não tá curtindo não é legal, a finalidade do sexo é sentir prazer.

Revista Mais Saúde – Alguns homens relatam que sentem dores nos testículos se não fazem sexo todos os dias (ou as vezes até mais de uma vez por dia), isso procede?                                  

Laura – Se ele se excitar muito e não ejacular pode ser que ele sinta certa dor no testículo, mas isso não quer dizer que ele tenha que obrigar a parceira ou parceiro a fazer sexo, com a justificativa: “ah, porque eu estou precisando”, não é uma necessidade básica como a de comer ou de dormir, não é, ele pode se masturbar. É preciso entender que não temos que coagir alguém para nos satisfazer, o sexo tem que entrar como prazer e não como uma obrigação.

Revista Mais Saúde – E o sexo ajuda a revitalizar, tornar mais jovem, contribui para ter uma pele mais bonita?

Laura – Se a mulher curte as relações sexuais e faz por prazer, o sexo pode sim trazer um novo colorido para vida, energizar, deixar tudo bacana, mas se ela não está fazendo por prazer, e sim por obrigação, não está se sentindo bem na cama, aí não ajuda, aí não é legal.

Revista Mais Saúde – Quais as drogas que podem causar disfunções sexuais tanto na mulher como no homem?

Laura – Todas as drogas são prejudiciais, qualquer droga pode influir negativamente no prazer, no desejo sexual. As drogas que aceleram muito a pessoa podem causar ansiedade muito grande e isso atrapalhar a ejaculação, promover uma ejaculação precoce, ou coisas do tipo. As drogas que desaceleram muito podem atrapalhar a ereção, fazer com que a pessoa não consiga ter esse estímulo erótico, no caso do homem não obter ereção e chegar ao orgasmo, e a mulher não se excitar e chegar ao orgasmo.

Revista Mais Saúde – E os medicamentos antidepressivos?

Laura – Nessa questão cada caso é um caso, se a pessoa tá muito deprimida e tem indicação do antidepressivo, pode ser que o antidepressivo melhore a vida dela como um todo  e aumente também a libido, mas tudo é uma questão de dosagem. Para tomar qualquer medicamento tem que procurar um médico, um especialista da área. Então, se você está tomando antidepressivo é com psiquiatra, se você quer tomar uma droga pró-sexual, um remédio para favorecer a sexualidade, tem que procurar um ginecologista- as mulheres, e urologista – os homens.

Revista Mais Saúde – É verdade que existem mulheres alérgicas ao sêmen?

Laura – Sim, ao sêmen, à camisinha, mas tudo isso a gente tem como administrar. Se ela é alérgica a camisinha, ela pode optar pela camisinha feminina que é de borracha nitrílica, um produto que não costuma dar muita alergia. O sêmen, se a mulher quer engravidar fica mais complicado, aí ela precisa pensar e ver como quer fazer isso, mas se o objetivo é sexo com prazer, ela não precisa ter contato com o sêmen, ela pode usar a camisinha se ela for alérgica (o sêmen ficará dentro da camisinha).

Revista Mais Saúde – A ansiedade atrapalha na hora do sexo?

Laura – Total. A ansiedade em excesso pode causar ejaculação precoce, e se a mulher ficar muito ansiosa ela pode ficar muito tensa e contrair involuntariamente a musculatura da região da vagina, sentindo dor na penetração, pode dificultar a obtenção do orgasmo tanto para o homem quanto para a mulher, então a dica é: relaxa, deixa as coisas acontecerem com tranquilidade que dará tudo certo.

Revista Mais Saúde e Laura Müller

 

Laura Müller abriu as atividades do Outubro Rosa, em Guarapuava,  com a palestra “Saúde e sexualidade da mulher”, no dia 30 de setembro. 

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