Quando o assunto é cirurgia de amigdalas e/ou adenóide, imediatamente surgem diversas dúvidas e questionamentos polêmicos. Para esclarecê-los, convidamos o Dr. Rodrigo Pereira, médico otorrinolaringologista da clínica Rinoclin. 

 

Revista Mais Saúde – Ainda se opera a garganta?

Rodrigo – Sim. A cirurgia de amígdalas e adenóide ainda é a cirurgia otorrinolaringológica mais realizada no mundo todo. Logicamente, os critérios para indicação da cirurgia são cada vez mais restritos e a cirurgia somente deve ser realizada em casos de necessidade.

 

Revista Mais Saúde – Sempre que se opera a adenóide deve-se operar as amígdalas junto?

Rodrigo – Não. A cirurgia pode ser somente da adenóide e não retirar as amígdalas. Nas crianças, quando existe a indicação de cirurgia de amígdalas, geralmente é feita também a cirurgia da adenóide quando há obstrução.

 

Revista Mais Saúde – As amígdalas não são defesa do corpo? Então, como pode existir ainda esta cirurgia?

Rodrigo – As amígdalas de certa forma são uma pequena defesa do corpo, incluindo a produção de alguns anticorpos. Porém, esta situação somente ocorre com as amígdalas normais. Quando existe uma desestruturação ou crescimento exagerado do órgão, o funcionamento não é normal, então pode-se pensar na cirurgia. Hoje em dia, com o avançar dos estudos sabe-se que os benefícios da cirurgia, quando bem indicada, são infinitamente maiores que qualquer fator negativo que possa existir.

 

Revista Mais Saúde – É verdade que após a cirurgia, a criança ou o adulto fica mais sujeito a ter outras infecções respiratórias como faringites ou pneumonias?

Rodrigo – Não. Esse é um mito antigo e totalmente fora da realidade sob o olhar da ciência mundial, e infelizmente ainda difundido até por muitos profissionais médicos mais desinformados. O que acontece é que muitas crianças ou adultos que já tinham faringites antes da cirurgia podem continuar a ter, assim como gripes ou resfriados. Mais um motivo de uma ótima avaliação otorrinolaringológica prévia.

 

Revista Mais Saúde – Quais as indicações da cirurgia?

Rodrigo – As principais indicações para a cirurgia são:

• Infecções de repetição: neste caso leva-se em conta não somente o número de infecções, mas também a gravidade delas;
• otites crônicas e/ou de repetição: muitas vezes a adenóide crescida leva a obstrução do orifício da tuba auditiva (que comunica o nariz e a garganta com os ouvidos) levando a infecções; 
• tamanho das amígdalas: se o crescimento das amígdalas atinge um grau que leva a obstrução respiratória, geralmente com a presença de roncos e/ou apnéia do sono;
• caseum: são “pontinhos brancos ” que se acumulam nas amígdalas e podem gerar um incômodo grande, além de mau hálito. Muitas vezes são confundidas com amigdalites e tratadas de forma incorreta;
• tumores: em alguns casos de suspeita de tumores e/ou com a confirmação através de biópsia.

 

Revista Mais Saúde – Amígdalas e adenóide grandes podem levar à respiração pela boca? Quais as complicações disso?

Rodrigo – Sim. A respiração bucal, ou respiração oral, pode ser causada pela obstrução das amígdalas e da adenoide.  As complicações da respiração bucal são diversas: alterações craniofaciais, alterações da arcada dentária, ronco e/ou apnéia do sono, sono agitado, babar no travesseiro, déficit de crescimento por alteração na liberação do hormônio do crescimento (GH), boca seca, dificuldades para alimentação, etc. Além disso, a obstrução crônica leva o acúmulo de secreções nas vias aéreas ocasionando sinusites e otites de repetição, principalmente nas crianças.

 

Revista Mais Saúde – A partir de que idade pode operar?

Rodrigo – Não existe uma idade exata para a indicação ou contraindicação de cirurgia, pois o quadro clínico é o dado mais importante para a decisão. Entretanto, evita-se geralmente a cirurgia das amígdalas antes dos 2 anos. A cirurgia de retirada da adenóide pode ser mais precoce, com casos de indicação a partir de 1 ano de vida. Cada paciente deve ser analisado de forma única e cada profissional pode tomar uma conduta própria.

 

Revista Mais Saúde – Adenóide é o que as pessoas chamam de “carne esponjosa”?

Rodrigo – Sim. Este termo popular refere-se à adenóide, uma vez que se trata de um tecido bem mole parecendo então uma esponja, que se localiza no final da cavidade nasal. Não se pode confundir a adenóide com desvio de septo ou aumento dos cornetos nasais, que são outras causas de nariz trancado e com tratamentos diferentes.

 

Revista Mais Saúde – A adenóide pode voltar depois da cirurgia?

Rodrigo – O risco existe, pois o pico de maior crescimento da adenóide nas crianças é até por volta dos 7 anos, estabilizando a partir de então. Porém, quando uma cirurgia cuidadosa e com boa técnica é realizada, por mais que um pouco da adenóide venha a crescer novamente não trará mais problemas obstrutivos.

 

Revista Mais Saúde – Opera-se somente crianças ou adultos também?

Rodrigo – Opera-se tanto adultos quanto crianças. A proporção é muito maior de crianças.

 

Revista Mais Saúde – Que tipo de anestesia é feita? A alta ocorre no mesmo dia?

Rodrigo – A anestesia é geral, porém durando muito pouco tempo. Avaliação clínica prévia e exames complementares, além da consulta pré-anestésica, são necessários para uma boa segurança da cirurgia.  Costumo dar alta no mesmo dia, mas em alguns casos, onde o paciente é de outra cidade, o mesmo recebe alta no máximo no dia seguinte pela manhã.

 

Revista Mais Saúde – Como é o pós-operatório?

Rodrigo – O pós-operatório é variável para cada paciente, mas de forma geral é doloroso principalmente nos primeiros dias, melhorando de forma rápida. Nos adultos a dor costuma ser um pouco maior. Cuidados com a alimentação e com as medicações para dor devem ser grandes, e costumo orientar muito bem os pais com relação a esses pontos.

 

Revista Mais Saúde – É verdade que no pós-operatório o paciente tem que tomar muito sorvete? Isso ainda procede?

Rodrigo – Sim, o sorvete é muito famoso no pós-operatório! Por ser gelado, age como uma “compressa fria dentro da garganta”, além de ser uma fonte muito boa e rápida de energia. Com o passar dos anos, as crianças esquecem a dor, mas não esquecem que tomaram muito sorvete. Ou seja, perfeito!

 

Revista Mais Saúde – Quais os riscos desta cirurgia?

Rodrigo – Existem riscos anestésicos, riscos cirúrgicos intra-operatórios e pós-operatórios. Os riscos anestésicos podem ser de diversas formas e níveis de gravidade, desde alergias, complicações pulmonares ou cardiológicas e risco de morte como em qualquer outra cirurgia. Obviamente com as técnicas e equipamentos modernos, esses riscos diminuíram muito. Por isso da importância da avaliação prévia do médico anestesista. Os riscos intra-operatórios são basicamente de sangramento excessivo. Neste caso, busca-se estancar o sangramento através de pontos e cauterizações. Nos primeiros dias do pós-operatório existe um risco, apesar de pequeno, de sangramento, por isso recomenda-se repouso e cuidados alimentares.

 

Revista Mais Saúde – Existem tratamentos clínicos que podem evitar a cirurgia?

Rodrigo – Sim. Diversos tratamentos medicamentosos podem e devem ser realizados para se tentar uma melhora clínica e evitar a cirurgia, porém em muitos casos essa melhora acaba não sendo satisfatória e a recorrência das infecções e o uso de antibióticos frequentes acabam levando a decisão pela cirurgia.

 

Revista Mais Saúde – O pediatra não permite a cirurgia. O que fazer então?

Rodrigo – O médico pediatra é o profissional que sempre deve dar a sua opinião e contribuir para o bem estar e acompanhamento da criança. Havendo divergência inicial nas opiniões, o ideal é a conversa entre o pediatra e o otorrinolaringologista para que ambos cheguem à decisão final mais adequada ao paciente, através da troca de informações e experiências.

 

Revista Mais Saúde – É verdade que depois da cirurgia a criança engorda?

Rodrigo – O aumento de peso pode sim acontecer e geralmente ocorre porque a criança não se alimentava bem antes da cirurgia e muitas vezes estava abaixo da curva de crescimento. Então geralmente alguns meses após a cirurgia, a criança pode sim voltar ao peso adequado para sua idade.

 

Revista Mais Saúde – A cirurgia pode ajudar no tratamento dentário ortodôntico?

Rodrigo – Sim. Uma vez que a respiração bucal prejudica muito o desenvolvimento normal da arcada dentária. Na grande maioria das vezes a cirurgia para a desobstrução respiratória deve inclusive preceder ao início do tratamento ortodôntico, sendo nesses casos muito indicada pelos profissionais ortodontistas.

 

Rodrigo Pereira - Otorrinolaringologista
Rodrigo Pereira – Otorrinolaringologista

Por Kerlin S. Zimmer

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