Acidente Vascular Cerebral (AVC) geralmente deixa sequelas. O importante é prevenir ou tratar os fatores de risco para evitar a doença.
Cefaléia intensa e súbita, diminuição ou perda súbita da força na face, braço ou perna do lado esquerdo ou direito do corpo, sensação de formigamento na face, braço ou perna de um lado do corpo, perda repentina de visão em um olho ou nos dois, alteração aguda da fala, incluindo dificuldade para articular e expressar palavras ou para compreender a linguagem e instabilidade, vertigem intensa e desequilíbrio associado a náuseas ou vômitos, são os principais sintomas que precedem o AVC, comumente chamado de derrame cerebral.
O AVC, segundo o neurologista, Dr. Reinaldo Martins, é caracterizado pela perda rápida de função neurológica, decorrente do entupimento (isquemia) ou rompimento (hemorragia de vasos sanguíneos cerebrais). “É uma doença de início súbito na qual o paciente pode apresentar paralisação ou dificuldade de movimentação dos membros de um mesmo lado do corpo, dificuldade na fala ou articulação das palavras e déficit visual repentino de uma parte do campo visual, podendo ainda evoluir com coma e outros sinais”, explica o médico.
Existem dois tipos de AVC – o AVC isquêmico e o AVC hemorrágico. “O AVC isquêmico é o tipo mais comum, presente em cerca de 80% dos casos. Ocorre pela falta de fluxo sanguíneo cerebral, levando ao sofrimento e enfarte do parênquima do sistema nervoso”, esclarece o neurologista. Conforme ele, essa queda no fluxo sanguíneo pode ser decorrente de uma obstrução arterial – um trombo ou, mais comumente, um êmbolo; queda na pressão de perfusão sanguínea, como nos estados de choque; uma obstrução na drenagem do sangue venoso, como na trombose venosa, causando dificuldade de entrada do sangue arterial no cérebro.
O AVC hemorrágico é menos freqüente, presente em cerca de 20% dos casos, mas não menos grave. “Ele ocorre pela ruptura de um vaso sanguíneo intracraniano. O sangue em contato com o tecido cerebral tem ação irritativa. Além disso, a inflamação e o efeito de massa ou pressão exercida pelo coágulo de sangue no tecido nervoso prejudica e degenera o cérebro e a função cerebral. Ele pode ser divido em dois tipos, o sangramento intraparenquimatoso ou a hemorragia cerebral (subaracnóidea). O sangramento intraparenquimatoso ocorre por ruptura dos aneurismas cerebrais que se formam pela hipertensão arterial descontrolada ou não tratada. Já a hemorragia cerebral ocorre por sangramento de aneurismas cerebrais (defeito ou formações saculares das artérias) no espaço liquórico ou subaracnóideo, tendo provavelmente origem congênita”, ressalta Dr. Reinaldo.
Principais fatores de risco
O neurologista citou alguns dos principais fatores de risco responsáveis por desencadear o AVC:
Hipertensão Arterial – É o principal fator de risco para AVC. Na população, o valor médio é de “12 por 8”. Porém, cada pessoa tem um valor de pressão, que deve ser determinado pelo seu médico. Quando este valor estiver acima do normal daquela pessoa, tem-se a hipertensão arterial, e, geralmente, é preciso cuidar-se sempre para que ela não suba inesperadamente. A hipertensão arterial acelera o processo de aterosclerose, além de poder levar a uma ruptura de um vaso sangüíneo ou a uma isquemia.
Doença cardíaca – Qualquer doença cardíaca, em especial as que produzem arritmias, podem determinar um AVC. “Se o coração não bater direito”, vai ocorrer uma dificuldade para o sangue alcançar o cérebro, além dos outros órgãos, podendo levar a uma isquemia.
Colesterol – Seus níveis alterados, especialmente a elevação da fração LDL (mau colesterol, presente nas gorduras saturadas, ou seja, aquelas de origem animal, como carnes, gema de ovo, etc.) ou a redução da fração HDL (bom colesterol) estão relacionados à formação das placas de aterosclerose.
Tabagismo – O hábito é prejudicial à saúde em todos os aspectos, principalmente naquelas pessoas que já têm outros fatores de risco. O fumo acelera o processo de aterosclerose, diminui a oxigenação do sangue e aumenta o risco de hipertensão arterial.
Consumo excessivo de bebidas alcoólicas – Quando isso ocorre por muito tempo, os níveis de colesterol se elevam. Além disso, a pessoa tem maior propensão à hipertensão arterial.
Diabetes – É uma doença em que o nível de açúcar (glicose) no sangue está elevado. Se um portador de diabetes tiver sua glicemia controlada, tem AVC menos grave do que aquele que não o controla.
Idade – Quanto mais idade tiver a pessoa, maior a probabilidade de ter um AVC. Isso não impede que uma pessoa jovem possa ter.
Sexo – Até aproximadamente 50 anos de idade, os homens tem maior propensão do que as mulheres. Depois desta idade, o risco praticamente se iguala.
Obesidade – Aumenta o risco de diabetes, de hipertensão arterial e de aterosclerose. Assim, indiretamente, aumenta o risco de AVC.
Malformação arteriovenosa cerebral – Distúrbio congênito dos vasos sangüíneos do cérebro nos sítios onde exista uma conexão anormal entre as artérias e as veias.
Diagnóstico
Segundo Dr. Reinaldo, o diagnóstico de AVC pode ser constatado com o quadro clínico compatível confirmado pela história do paciente e o exame neurológico. “Para ter certeza e confirmar que parte do cérebro foi atingido, o exame mais utilizado é a tomografia de crânio e em alguns casos pode ser indicado a ressonância nuclear magnética”, diz.
Tratamento
O tratamento agudo do AVC isquêmico, conforme o neurologista, consiste no uso de terapias antitrombóticas (contra a coagulação do sangue) que tentam cessar o AVC quando ele está ocorrendo, por meio da rápida dissolução do coágulo que está causando a isquemia. “A chance de recuperação aumenta quanto mais rápida for a ação terapêutica. O AVC em evolução constitui uma emergência médica, devendo ser tratado rapidamente em ambiente hospitalar”, ressalta.
O uso de terapia antitrombótica, de acordo com Dr. Reinaldo, é importante para evitar recorrências. Além disso, é preciso controlar outras complicações, principalmente em pacientes acamados (pneumonias, tromboembolismo, infecções, úlceras de pele), onde a fisioterapia previne e tem papel importante na recuperação funcional do paciente.
As medidas iniciais são semelhantes para o AVC hemorrágico. “Neste tipo de AVC é preciso obter leito em uma unidade de terapia intensiva (UTI) para rigoroso controle da pressão. Em alguns casos, a cirurgia é mandatória com o objetivo de se tentar a retirada do coágulo e fazer o controle da pressão intracraniana”, afirma o médico.
O melhor tratamento para o AVC, como todas as doenças vasculares, é prevenir os fatores de risco, como a hipertensão arterial, aterosclerose, o diabete mellitus, além de reconhecer e tratar problemas cardíacos. “Se houver atendimento médico rápido, dentro de um determinado tempo, a área afetada poderá ser normalizada. Mas, se houver sequelas, deve ser iniciado um programa de reabilitação e cuidados com o paciente que inclui uma equipe multidisciplinar”, constata Dr. Reinaldo.
Sequelas do AVC
È comum que AVC isquêmico se repita, deixando cada vez mais sequelas. “Uma parte considerável dos episódios pode evoluir com melhora importante após fisioterapia, com recuperação da força muscular, e de fonoaudiologia para corrigir problemas associados à deglutição de alimentos, por exemplo”, avalia o profissional.
Para evitar as sequelas é muito importante que haja reabilitação, ou seja, fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional no suporte ao paciente com derrame. A ausência de um programa de reabilitação pode levar a sequelas permanentes.