Protocolos de segurança devem dar maior atenção a ventilar os ambientes e uso de máscara, já que é mais fácil contrair coronavírus pelo ar do que pelo contato direto com superfícies
Chegar do mercado carregado e levar tudo direto para pia. Água e sabão ou álcool 70% em todas as compras. Um ritual que todo mundo já conhece e provavelmente repetiu muitas vezes no último ano.
Na hora de evitar a contaminação todo cuidado é importante, porém, lavar as compras, apesar de ajudar a evitar a doença, não é crucial.
No começo de abril o CDC, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, divulgou uma nota científica atualizando as informações a respeito dos meios de contaminação de Covid-19.
O documento foi elaborado revisando 36 artigos e estudos diferentes e conclui que a principal forma de contaminação é por via aérea.
O contágio de através de um objeto que contenha o coronavírus pode acontecer, mas as chances disso são bem baixas.
“Cada contato com uma superfície contaminada terá uma em dez mil chances de causar infecção”, revela o texto em questão.
Outra constatação é que a quantidade de carga viral presente em locais externos é menor do que internos, o que se deve pela diluição de partículas que contêm o coronavírus no ar.
As conclusões não surpreenderam muito a comunidade científica especializada em vírus e microorganismos, conforme explica o pesquisador e professor de microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Leandro Lobo, a transmissão por aerossóis é a mais comum se tratando de vírus respiratórios.
Além disso, para que essas partículas contendo carga viral de fato entrem em contato com o organismo e provoquem a infecção, uma série de fatores precisa estar alinhado.
Questões ambientais presentes no local entram na equação. Elas seriam:
- temperatura;
- umidade;
- incidência de luz solar;
- tipo de superfície;
- demais microorganismos presentes.
Outro aspecto preponderante, é a própria pele humana. Mesmo que sobreviva a superfície, o vírus é influenciado pela oleosidade, suor e concentração de sal na pele.
“Tudo isso afeta a carga viral da partícula. E a pessoa ainda tem que colocar essa partícula contaminada em contato com alguma mucosa”, ensina.
Esses fatores explicam porque a transmissão por superfícies é mais difícil. Entretanto, como lembra Leandro, isso não quer dizer que ela não possa ocorrer.
Quem também chegou a essa conclusão foi o médico e escritor Drauzio Varella. Em sua coluna no Jornal Folha de S. Paulo, ele reforça a opinião de que é o ar a principal maneira de se contaminar, argumentando com base na revisão que fez de artigos já publicados sobre o tema.
Indo além, o famoso comunicador da área da medicina fala sua tese para a origem desse medo. Para ele isso se deve a falta de informação sobre o novo coronavírus no começo da pandemia e analogia a outras patologias.
“Nos hospitais, algumas bactérias (como o estafilococo resistente) e certos vírus (como o sincicial respiratório) podem se espalhar pelas mesas de cabeceira, grades de cama e até pelos estetoscópios dos médicos”, ele conta aos leitores do jornal.
Meios de contaminação do coronavírus
Segundo o Ministério da Saúde, são três tipos de contaminação de Sars-Cov-2, a popular covid. Esses meios de contrair a doença são parecidos com outras que atingem o sistema respiratório.
Uma delas é a transmissão que ocorre a partir da exposição a gotículas respiratórias expelidas, contendo vírus, por uma pessoa infectada no momento em que ela tosse ou espirra, principalmente quando se encontra a menos de 1 metro de distância da outra.
Outra forma é a contaminação por aerossol. Ela também se dá pelo ar, mas dessa vez por meio de gotículas respiratórias menores. Essas partículas que contém o vírus permanecem suspensas no ar, podendo ser levadas por distâncias maiores que 1 metro. Elas também permanecem suspensas por períodos mais longos, geralmente por horas.
Além disso, existe a já citada transmissão por contato. Ela se dá pelo toque direto em uma pessoa contaminada. Um exemplo que o Ministério da Saúde usa é um aperto de mão, seguido do toque nos olhos, nariz ou boca.
Outra forma desse tipo de contração da doença pode ocorrer ao encostar em objetos e superfícies contaminadas.
O maior perigo é o vírus suspenso no ar
A nota científica do CDC afirma que limpar e desinfetar até é eficaz para evitar a contaminação por superfícies. Porém, isso irá variar de acordo com o produto utilizado no processo e superfície.
“A desinfecção de superfícies se mostrou efetiva para prevenir a transmissão secundária de SARS-CoV-2 entre uma pessoa infectada e outros moradores dentro da casa. Entretanto, há pouco apoio científico para o uso rotineiro de desinfetantes em ambientes comunitários, seja internamente ou externamente”, expõe o texto.
Outra informação que a agência traz diz respeito à presença de indivíduos doentes dentro de um ambiente fechado. A dica é que nesse caso o ambiente seja ventilado, para ajudar a diluição de partículas de vírus no ar.
Uma recomendação importante é que pessoas que tenham tido exame positivo usem máscaras mesmo dentro de casa. Bem como, sigam lavando as mãos e mantendo as demais medidas de higiene. Esse processo auxilia a reduzir a carga viral no espaço.
Mais uma instituição que afirma que garantir a ventilação é crucial para evitar a contaminação do vírus é a OMS.
A entidade publicou um guia com instruções de como garantir que isso ocorra em diversos tipos de lugares. O documento foi publicado em inglês e pode ser acessado pelo público no site da própria OMS.
Protocolos devem continuar sendo seguidos, focando ainda mais a ventilação
Para o microbiologista Leandro Lobo, as ações tomadas desde o começo da pandemia devem permanecer. Ele recorda que a vacinação em massa e de forma ágil ainda é a melhor saída para a pandemia.
Mas, até lá as pessoas não podem deixar de:
- utilizar máscaras;
- manter o distanciamento;
- lavar as mãos
- procurar deixar o ar circular da melhor maneira possível.
Esse último ponto, inclusive, merece atenção. Ele lembra que manter o ambiente ventilado é uma boa estratégia para dispersar esses aerossóis que carregam o vírus. Isso é particularmente importante, já que pode afetar a gravidade da Covid-19, caso a infecção ocorra.
“Tanto a transmissão quanto a gravidade da doença, tem muito a ver com a carga viral no ato do contágio. Existe uma associação entre a exposição a uma alta quantidade de vírus e a manifestação mais grave da doença”, exemplifica Leandro.
Focar nesses pontos importantes ajuda perder menos tempo e não se estressar tanto com atitudes como lavar as compras. Novamente, a questão das variáveis da superfície volta a pesar na balança. É difícil que um vírus sobreviva em produto armazenado em um armário ou despensa da casa.
“A exceção é com o alimento que você consumir e colocar na boca, como frutas ou legumes, latas ou garrafas. Mas isso é recomendado na vida no geral, não por conta só da Covid-19”, sugere.
Tendo em mente todo esse cenário é importante ressaltar que ainda devemos tomar cuidado com a transmissão do novo coronavírus, mas focando no que é mais importante.
Nesse sentido, um conselho do Dr. Drauzio Varella é fundamental. “Em vez de perder horas do seu dia lavando tudo o que entra em casa, lave as mãos com frequência, use máscara ao sair e ventile ao máximo os ambientes em que estiver”, finaliza.
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