Superar um trauma não é tarefa fácil, mas existem caminhos que podem lhe ajudar
Uma experiência traumática pode deixar marcas profundas na vida de uma pessoa, especialmente porque a tendência mais natural é abraçar o isolamento e o silêncio, como se falar do ocorrido significa desencadear tudo outra vez. Somos seres individuais na forma de ser, e percebemos o mundo à nossa maneira, única e particular. De acordo com a psicóloga Maria Adriane Messias Kulka, é por isso que eventos intensos e estressantes para algumas pessoas podem ser traumáticos. Existem pessoas que são mais vulneráveis e sensíveis a esse tipo de percepção. “Situações adversas e inesperadas podem acontecer com qualquer pessoa a qualquer momento, mas o impacto disso nelas é o que causa o trauma, ou seja, o trauma psicológico ocorre quando alguém passa por uma situação muito estressante na qual não consegue lidar bem com essa experiência, sentindo-se em situação de risco”.
Durante um trauma, ocorrem mudanças neurofisiológicas, que levam o organismo a um modo de sobrevivência, onde há uma dificuldade de pensar e agir racionalmente, se deixando dominar por sentimentos como o medo. “Quando bem dosado, o medo é essencial para a nossa existência, mas nessas situações, ele geralmente congela a pessoa dentro de suas emoções”, explica à psicóloga.
Esses sentimentos são ainda piores quando surgem na infância, por ser uma fase delicada e crucial para o desenvolvimento humano, podendo gerar inúmeros transtornos mentais ou físicos, como quando ocorrem agressões físicas, verbais, abusos sexuais e outros. “O trauma é um nível extremo de estresse que leva o organismo ao limite emocional e suas consequências podem ser graves como a depressão e o suicídio. É bem comum ver pessoas que vivenciam situações traumáticas desenvolverem o Transtorno do Estresse Pós Traumático (TEPT), em que devido ao armazenamento das informações sensoriais acerca do evento, como cheiro, sons, imagens e outros, em certos momentos da sua vida revive a cena traumática, as emoções intensas e o desconforto gerado pelo trauma, desencadeando ansiedade em excesso, medos fantasiosos, instabilidade emocional e, muitas vezes, aprisionando a pessoa a esta experiência desagradável que aconteceu”, afirma Maria Adriane.
Liberte-se!
Nesse caminho não existe uma fórmula mágica. Cada pessoa irá responder ao trauma de uma maneira única, sendo a superação mais ou menos custosa. Portanto, a ajuda profissional é importante para guiar os esforços e a dimensionar o sofrimento.
Alguns tratamentos podem auxiliar no controle destes traumas. Um deles é a psicoterapia e, em alguns casos, a medicação, se os sintomas estiverem elevados. “Falar sobre o trauma, colocar para fora, externalizar são processos utilizados durante as sessões de acompanhamento psicológico, auxiliando a pessoa a elaborar a situação traumática, desprendendo-se das emoções ruins”, salienta Maria Adriane.
Algumas atitudes são muito importantes para a evolução do tratamento. São elas:
Converse com você mesmo: É comum que, com um trauma, você não se sinta à vontade para conversar com ninguém. O medo da reação do outro costuma ser um grande empecilho. Porém, não minta para você e não tente fugir dos seus pensamentos. É necessário abrir o caminho para um diálogo interno.
Trabalhe a sua autoconfiança: O trauma não define seus traços, nem quem você é. Por isso, tente lembrar-se de seus pontos positivos, de todas as qualidades e encontrar nas suas características mais intrínsecas aos mecanismos para reagir. Com a autoconfiança mais forte, será mais fácil vencer a dor.
Busque o alívio para o sofrimento: É necessário encontrar uma válvula de escape para esse sentimento. Muitos recorrem à religião, às crenças, ao trabalho voluntário e outros. Ajudar aos demais é a melhor forma de ajudar a nós mesmos. Se esse não é o seu caminho, tente encontrar alguma coisa que lhe dá prazer e que tenha a capacidade de fazer você se desconectar, trazendo a alegria e leveza para o seu dia a dia.
Evite a autovitimização: Ninguém merece passar por um trauma. Todos os que já viveram uma situação assim coincidirão ao dizer que não deveriam ter que lidar com tamanha dor e sofrimento. Justamente por isso, é inevitável que haja um sentimento de injustiça, o qual deve ser relativizado. O grande objetivo é não permitir que o trauma domine você e seus pensamentos, pois fará da caminhada rumo à superação algo muito longo e penoso. Tente encarar o trauma de frente. Você passou por uma situação alheia à sua vontade, porém, que precisa ser enfrentada.
“Ao passar por um trauma, busque desenvolver a resiliência, a capacidade de se refazer após um evento traumático, ou seja, se estruture emocionalmente, se fortaleça para os fatos adversos que podem ocorrer em nossa vida. Busque sempre o autoconhecimento e aprenda a lidar com as suas potencialidades e limitações, essenciais para nosso bem-estar físico e emocional”, sugere Maria Adriane.