Especialista explica relação entre consumismo, ter prazer e ser feliz. Aprenda a resistir aos impulsos na Black Friday e fazer compras mais assertivas
Dopamina, promoções e satisfação. Três termos que parecem não ter nada em comum, certo?
Mas a verdade é que eles estão muito relacionados. É isso, por exemplo, que explica aquela sensação boa ao adquirir ao fazer uma compra. É o que nos conta Denize Savi, que atua na área de Ciência da Felicidade, possuindo MBA em Psicologia Positiva e especialização em Neurociência e Comportamento.
A Dopamina é um neurotransmissor que causa prazer e alivia tensões. Ou seja, quando se sucumbe ao desejo de comprar alguma coisa ou aproveitar uma promoção irresistível, o corpo está produzindo esse mensageiro químico que atua no sistema nervoso central.
De acordo com a especialista, de fato o consumo desencadeia uma sensação de bem-estar. E é exatamente aí que mora o perigo. Acontece que por conta própria, a produção de dopamina não faz ninguém feliz, pelo contrário, ele pode configurar uma fuga.
“Consumir, em si, não é o problema. Todos nós precisamos dos mais variados produtos e serviços para suprir as necessidades da nossa vida cotidiana, o problema é quando passamos dos limites, adquirimos coisas a mais, sem precisar, compramos por impulso ou para sentir satisfação”, destaca.
Adquirir bens para fugir dos problemas é um hábito bastante perigoso, já que potencializa coisas como o vício em compras e tem fortes impactos na vida financeira.
Resistir ao impulso pode ser difícil
A tentação vem de todos os lados: na internet, fora dela, nas vitrines e até dos amigos. Quantos de nós já não adquirimos alguma coisa influenciados por alguém que conhecemos? O fato é que o consumo faz parte da nossa cultura. É uma característica da sociedade do nosso tempo.
Nesse cenário, comprar por impulso é um ato difícil de controlar porque o mercado induz à necessidade de ter, possuir, obter e ostentar. Ele impõe, cotidianamente, novos produtos que oferecem todo tipo de vantagens: conforto, praticidade, satisfação, beleza, exclusividade e até felicidade.
“No fundo não compramos produtos, compramos uma história que, para nós, soa como uma necessidade. E, suprindo essa necessidade/desejo, temos a sensação de felicidade”, pontua Denize.
A especialista explica ainda que isso acontece porque entram em cena muitos sentimentos:
- Sensação de conquista;
- Autoconfiança;
- Satisfação pessoal;
- Realização;
- Identidade social;
- Necessidade de se sentir atualizado.
Tudo isso nos dá a impressão de felicidade. E é justamente esse sentimento que é posto à venda nas estratégias de marketing.
“O problema é que confundimos felicidade com prazer. É um erro limitá-la a um estado de satisfação imediata de desejos, pois assim que a novidade perde a graça necessitamos de algo novo mais uma vez. E dessa forma ficamos numa esteira hedônica, correndo atrás de coisas que supomos nos fazer felizes”, completa Denize.
O estado de felicidade não depende de consumo para acontecer. A associação entre ser feliz e consumir constitui um pensamento equivocado. Adquirir algo não abrange fatores cognitivos importantes, como amor, carinho, saúde mental e física, entre outros tantos requisitos necessários para ser feliz.
O que é felicidade?
Esse é um tema bastante subjetivo e de difícil mensuração. São mais de 7 bilhões de pessoas no mundo e cada um tem um conceito próprio de felicidade de acordo com suas necessidades e sentimentos.
Um ingrediente curioso nesse caldeirão de definições é o fato de que a maioria das pessoas acredita que não existe felicidade e sim momentos felizes. Isso, segundo Denize Savi, é uma confusão entre ser feliz e estar alegre. “Alegria é uma emoção, assim como raiva, tristeza, ansiedade. Já a felicidade é uma construção a médio e longo prazo, é um estado de ser, um modo de enxergar a vida”, explica.
Uma definição que contempla esse tema vem da pesquisadora de Stanford, Sonja Lyubomirsky.
“Felicidade é a experiência de contentamento e bem-estar combinada à sensação de que a vida possui sentido e vale a pena”, conclui a PhD lotada na universidade norte-americana.
É sempre bom destacar que isso não significa que não haverá desafios. A realidade é o contrário, a felicidade é um processo composto por todas as coisas, sejam elas as doces e as amargas. Aliás, as do segundo tipo que, em geral, nos tornam resilientes e nos fazem evoluir.
Desse modo, como ressalta Denize, ser feliz vem muito mais do existencialismo do que materialismo. Nesse sentido, a existência é pautada pela forma como nos relacionamos com os outros. Logo, o vínculo é um fator importantíssimo para determinar a felicidade do ser humano. Por isso que valores como amor e compaixão são mais importantes que bens materiais.
Consumismo x Consumo
Como falado anteriormente, não há nada de errado em consumir. Mas dependendo da frequência, esse ato pode ser considerado consumismo.
Há uma linha tênue que separa ambos, delineada pela consciência do comprador. O consumo pode ser entendido como uma aquisição racional, mais seletiva. Uma compra consciente. Já o consumismo é a aquisição por impulso e recorrente.
Como lembra a especialista, isso pode ser um perigo para nossa saúde mental, porque estimula a inveja, a autodepreciação e a ânsia de querer além do que precisa.
Além do mais, comprar desenfreadamente pode se caracterizar numa doença chamada oneomania, classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno do controle de impulso.
Em seu Instagram (@denizesavi) falou sobre esse tema e deu algumas dicas que podem ajudar a manter o consumo saudável:
- Procurar ter consciência sobre o consumismo
- Antes de comprar questione se você realmente precisa daquilo
- Observe quantas coisas você tem e não usa
- Faça compras pela manhã – ao estar menos cansado as decisões podem ser melhores
- Se envolva com causas sociais – isso estimula o centro de recompensa do cérebro;
- Planeje o futuro e a realização de sonhos.
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