Halitose, esse é o nome técnico do mau hálito. Segundo uma pesquisa da Associação Brasileira de Estudo e Pesquisa dos Odores da Boca, quatro em cada dez brasileiros sofrem com ele. E apesar da fama, o culpado pelo mau hálito, na maioria das vezes, não é o estômago, mas fatores que prejudicam a higiene dos dentes e da língua. Quem sofre desse mal, pode enfrentar uma saia justa ao ter que falar pertinho de alguém. E o pior: na maioria dos casos, a própria pessoa não sabe que tem esse problema.
Para tirar algumas dúvidas a respeito do mau hálito, a Revista Mais Saúde conversou com a cirurgiã-dentista Angelina Camargo.
Revista Mais Saúde – Quais são as causas do mau hálito?
Angelina – Existem diversas causas para o mau hálito, que podem ser de origem bucal ou sistêmica. No entanto, tanto os estudos já publicados quanto o dia a dia clínico nos mostram que grande parte, cerca de 90%, dos casos de halitose, são de origem bucal, ou seja, saburra lingual, doenças periodontais e cáseos amigdalianos são os principais causadores de mau hálito.
Revista Mais Saúde – Esse problema tem solução?
Angelina – Sim, geralmente o tratamento para a halitose costuma ser rápido e bem efetivo, desde que o paciente colabore e siga todas as instruções passadas pelo profissional.
Revista Mais Saúde – Por que temos mau hálito geralmente ao acordar e depois de ficar várias horas sem comer?
Angelina – A língua possui diversas papilas gustativas, que formam uma região rugosa. Nessa região ocorre um acúmulo de resíduos alimentares, células epiteliais descamadas e placas bacterianas que começam a fermentar e a liberar um odor de enxofre, que chamamos de mau hálito. Entre uma refeição e outra, ocorre a retenção de restos alimentares nessa região mais rugosa da língua, e após um tempo sem comer ocorre uma diminuição do fluxo salivar, diminuição do atrito da língua com o palato e com o bolo alimentar, e assim acontece a produção de uma maior fermentação e o odor forte é exalado. Quando a pessoa come, o bolo alimentar e o aumento do fluxo salivar ajudam a remover os resíduos das papilas gustativas e as bactérias responsáveis pela fermentação. Isso explica também a halitose matinal: durante a noite a produção de saliva é menor, assim ocorre maior fermentação e maior liberação de odores de enxofre, por isso o mau hálito matinal é mais forte do que os outros tipos que ocorrem durante o dia.
Revista Mais Saúde – O mau hálito pode sinalizar alguma doença?
Angelina – Sim, o mau hálito pode aparecer em pacientes com diabetes descompensado, hipoglicemia, disfunções hepáticas, renais ou intestinais, pacientes que tem gastrite ou úlcera, neoplasias, dentre outros. O diabético descompensado pode ser identificado através do hálito cetônico, que costuma ser bem característico e geralmente acompanhado de doença periodontal. Mas outras doenças são de difícil percepção apenas pela presença de halitose, uma vez que, como já foi mencionado, essas doenças são responsáveis apenas por cerca de 10% dos casos de mau hálito.
Revista Mais Saúde – Por que a pessoa que tem mau hálito geralmente não percebe?
Angelina – Assim como acontece quando você usa o mesmo perfume durante muito tempo e não consegue mais sentir o cheiro na própria pele, acontece com as pessoas que tem mau hálito. No início a pessoa até percebe, mas com o tempo ela acostuma com o cheiro. Esse processo é conhecido como fadiga olfatória, e isso acaba se tornando um fato muito constrangedor, porque é difícil encontrar alguém que tenha coragem de sinalizar esse problema para a pessoa.
Revista Mais Saúde – Existem fatores que podem piorar o problema?
Angelina – Sim, hábitos de higiene deficientes são os grandes responsáveis pelo acúmulo de saburra lingual e doenças periodontais.
Por Camila Neumann