Conversamos com a psicóloga Jéssica Maschio Martini CRP  (08/20383) sobre como lidar com a essa situação durante um momento delicado como o de pandemia

O friozinho na barriga, o medo do desconhecido, a saudade dos amigos. Esse caldeirão de emoções nem sempre é fácil para a criançada, ainda mais quando a rotina não vai ser bem como era.

 

Mais Saúde: A ansiedade na volta às aulas é um problema comum para as crianças. Em 2021, com a pandemia, esse problema pode ser ainda maior?

Jéssica: A volta às aulas é um momento delicado e de muita ansiedade para os pequenos. Retomar o ano letivo pode causar diferentes emoções, pois estavam vivendo seus momentos de férias, lazeres, convívio intenso com a família e retomar o cotidiano da vida escolar não é algo tão simples. ​Se pensarmos que isso em tempos normais já é complicado, hoje, na situação da pandemia, as emoções acabam se intensificando. O isolamento social e a suspensão repentina das aulas presenciais ainda geram nas crianças, muitas incertezas, bem como suas possíveis consequências. O novo, gera insegurança e ansiedade, mas é na educação infantil que estes processos tendem a acontecer com mais intensidade e sofrimento, visto que as crianças pequenas ainda não conseguem identificar, compreender e expressar muito bem seus sentimentos e emoções.

Mais Saúde: Quais os sinais os pais podem perceber nos filhos que sofrem de ansiedade ao voltar para escola?

Jéssica: Devemos sempre ficar atentos a quaisquer sinais de mudança de comportamento repentino de nossos filhos, especificamente com relação a ansiedade. Devemos nos alertar quando a criança começa a apresentar:  baixo rendimento escolar; falta de atenção; retração social; tristeza; frustração; medo; comportamentos de insatisfação; insegurança; apatia; distúrbios alimentares; de humor e do sono.  Mas vale ressaltar que qualquer mudança inesperada em nossas vidas é encarada com certa dose de ansiedade, mas no caso das crianças é preciso ajudá-las para superar esses sentimentos. Isso vai evitar problemas futuros, uma vez que as  elas apresentam mais dificuldades em expor seus sentimentos e entendê-los, pois algumas delas reagem melhor a esta mudança de vida do que outras, tudo vai depender de sua personalidade, do seu histórico de vida e emocional e de sua rede de apoio.

 

Mais Saúde:  Como você acredita que o “novo normal” e as mudanças na rotina (como seguir protocolos de segurança) podem afetar a saúde mental dos alunos?

Qualquer mudança  inesperada em nossas vidas é encarada com certa dose de ansiedade, no entanto vale a pena ressaltar que não só as crianças acabam sendo afetadas, como todos nós, uma vez que tivemos uma mudança brusca no estilo de vida.  Esse período de quarentena está exigindo momentos de adaptação em modos de viver e reagir às adversidades. O isolamento social e o sentimento de perda do direito de ir e vir acabam sendo um dos principais gatilhos para o desencadeamento de quadros de depressão, além de elevados níveis de estresse e ansiedade.

Jéssica Maschio Martini (CRP-08-20383) atua na psicoterapia e psicodiagnótisco adulto e infantil

 Mais Saúde: Como os pais podem enfrentar possíveis problemas quando seus filhos retornarem a frequentar presencialmente a escola?

Jéssica: Com a volta à rotina e com as inúmeras restrições e cuidados, as crianças podem começar a apresentar os sinais citados, sendo assim é importante que os pais passem segurança e confiança a eles, conversem, tirem as dúvidas que surgirem, auxiliem seus filhos a entenderem o que estão sentindo. Ajudar a nomear as emoções e sentimentos básicos faz com que eles entendam que todas são importantes e aprendam a lidar com elas, uma vez que eles tendem a absorver esses fatores. Porém, como estão em fase de construção cognitiva, tais aspectos podem afetar não só sua saúde mental na infância, mas refletir em transtornos e fobias na vida adulta. Fazendo-se necessário buscar um acompanhamento psicológico para ajudar nessa identificação e superação de sentimentos.

 Mais Saúde: Para os alunos e pais que não retornarão ao ensino presencial, quais dica você dá para minimizar o desgaste do ensino a distância e da falta dos colegas?

 Jéssica: É fundamental que os pais tenham o cuidado de manter uma rotina de estudos e atividades educativas com os filhos. Preparar um espaço adequado, dentro de suas possibilidades, que seja livre de possíveis distrações, para a realização das atividades. Crianças que estão na fase de alfabetização exigem mais atenção, sendo necessário a presença de um adulto ao lado delas durante a atividade. Se possível, evitar de fazer outras atividades paralelas enquanto auxilia a criança, isso pode ser gerador de ansiedade para ambos e dificultar o processo de aprendizagem. Recomenda-se que as crianças criem o hábito de estudar em casa no mesmo horário em que estariam no colégio, essa medida é muito importante para elas terem mais disciplina e não perderem o ritmo.

Com relação a falta dos colegas, podemos utilizar a tecnologia a nosso favor nessa situação de isolamento social, ligações, chamadas de vídeos, trocas de mensagem, podem suprir um pouco a grande falta que esse contato pessoal nos faz, mas cabe ressaltar a importância da supervisão de um adulto nesses momentos.

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