O primeiro caso provável de hepatite aguda misteriosa no Brasil surgiu no começo de junho. Médico infectologista pediátrico nos conta o que já se sabe sobre
Um problema sempre muito delicado, a hepatite comumente já requer bastante atenção e cuidado, seja em qual público for. Porém, recentemente, um novo tipo da doença vem sendo identificado e está chamando a atenção da comunidade médica.
Ela atinge crianças e adolescentes, suas causas não são completamente conhecidas e ela tem potencial de levar pacientes a necessitar de transplante de fígado. Acredita-se que ela já tenha matado pelo menos 14 jovens ao redor do mundo. A doença vem sendo chamada de hepatite aguda misteriosa.
No começo de junho, o primeiro caso provável no Brasil foi registrado em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. O caso foi confirmado pelo Ministério da Saúde, segundo a Folha de S. Paulo.
O Ministério da Saúde, investiga ainda, no Brasil, 88 casos suspeitos, além de sete mortes, que teriam ocorrido nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Rio Grande do Norte.
Segundo o jornal O Globo, também faz parte da investigação uma possível relação entre sete casos de crianças que precisaram de transplantes e a doença misteriosa.
Como é feita a classificação dos casos de hepatite aguda misteriosa
O Ministério da Saúde define como casos suspeitos aqueles que contemplam os seguintes critérios:
- Pacientes com até 17 anos;
- Quadro de hepatite aguda;
- Diagnóstico negativo para hepatites A, B e C, dengue, zika, chikungunya e febre amarela;
- Quadro que evoluiu para hepatite fulminante de causa desconhecida entre 1º de outubro de 2021 a 20 de abril de 2022.
Para casos prováveis, além dos já citados, os critérios se estendem para:
- Diagnóstico negativo para hepatite E;
A diferença entre uma hepatite aguda misteriosa e a comum
Hepatites costumam ser uma inflamação que atinge o fígado. As suas possíveis causas podem variar entre as infecciosas e não infecciosas.
O primeiro tipo é causado por problemas relacionados à contaminação por vírus. Já quando se fala nas que não são decorrentes de infecções, o excesso no consumo de álcool, medicamentos e doenças autoimunes podem estar relacionadas. É o que nos explica Victor Horácio de Souza Costa Júnior (CRM-PR 16725), Vice-diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe e médico infectologista pediátrico.
O que difere a hepatite, seja qual for sua origem, é o tempo para o quadro evoluir.
“Geralmente as hepatites agudas têm uma evolução em torno de sete a quatorze dias. As hepatites que cronificam, elas persistem, além disso”, exemplifica.
Veja Mais: Quais são os riscos da hepatite viral?
Sinais de alerta da hepatite
“O sintoma mais clássico da hepatite é a icterícia. A criança fica com a pele um pouco mais amarela”, explica Victor Horácio, infectologista pediátrico.
Porém outros sinais também podem ser observados:
- Dor abdominal;
- Fadiga;
- Febre;
- Olhos com a conjuntiva avermelhada e esclera amarelada;
- Acolia fecal (fezes esbranquiçadas);
- Náusea;
- Vômitos;
- Perda de apetite;
- Urina escura;
- Dor nas articulações.
Fontes: Dr. Victor Horácio e CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças – Estados Unidos)
Por que essa doença é chamada de hepatite aguda misteriosa?
A doença que está chamando a atenção tem recebido a alcunha de hepatite aguda misteriosa. Esse último adjetivo se deve ao fato de que as causas que levam até o desenvolvimento dela ainda não são bem definidas, ou seja, a etiologia ainda não está muito clara.
“O que a gente sabe hoje é que as crianças que estão desenvolvendo essa hepatite tiveram infecção por covid e ficaram com o vírus a nível de trato gastro intestinal. E, quando elas pegam uma infecção por um vírus que a gente chama de adenovírus, a associação dele com o coronavírus faz um processo inflamatório mais exacerbado, que promove uma inflamação no fígado ainda maior”, explica Victor Horácio.
O infectologista pediátrico comenta ainda que a expectativa é que os estudos que vêm sendo desenvolvidos cheguem logo a uma identificação etiológica mais assertiva. Isso possibilitará que sejam tomadas medidas necessárias para a prevenção, além de evitar que esse tipo de doença se espalhe pelo país.
“Mas é um quadro preocupante. A gente sabe que o fígado é importante. O órgão está na coagulação, no nosso organismo e que quadros graves de hepatite podem culminar com risco de vida”, complementa.
Como prevenir as hepatites
De maneira geral, essas doenças têm origens muito distintas, por isso é difícil determinar uma maneira de prevenção geral. Mas entre as agudas, a mais comum é a Hepatite A.
“É uma hepatite que você adquire a partir do momento que você tem contato com um rio, ou poluentes que podem acabar acarretando a contaminação pelo vírus A”, elucida Victor Horácio.
O médico complementa ainda que essa é uma para a qual já existe vacina.
“Para a Hepatite A a imunização é feita com 15 meses de vida, por obrigatoriedade no calendário de vacinação do Ministério da Saúde e pelo calendário da Sociedade Brasileira de Pediatria, são duas doses. Uma com um ano e outra com seis meses. E também pode ser feita em qualquer fase da vida”, completa.
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