Esse problema sempre existiu e ficou ainda pior durante a pandemia. O desinteresse pela escola deve ser mudado com esforço de toda a família
Que mãe ou pai nunca viu seu filho fazer birra na frente da escola, não querendo entrar?
Ou então teve que contornar uma choradeira na hora de fazer as tarefas?
A verdade é que muitas vezes crianças e adolescentes podem não ter o interesse necessário e não se empenhar o suficiente para ter um bom rendimento escolar.
Frente a essa situação os pais se sentem de mãos atadas. É difícil aos responsáveis saber qual a melhor forma de agir para mudar a situação.
De maneira geral, esse desinteresse pela escola ocorre principalmente quando os pequenos estão fora do ambiente da escola e precisam regressar. Ou seja, quando precisam voltar para a escola ou precisam fazer atividades de casa.
A psicóloga Talita Abreu explica que essa situação está ainda mais latente graças às adaptações que precisaram ser feitas nos modelos de ensino, em decorrência da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus.
Se olharmos para trás, antes de pandemia, crianças e adolescentes muitas vezes já não gostavam dessa questão de ‘tarefa de casa’. Isso ocorria exatamente por não estarem no contexto escolar
Origens do desinteresse pela escola
A falta de engajamento com o meio escolar em certa medida pode ser normal, podendo ser resolvido com suporte parental. Entretanto, em outros casos é possível que um problema um pouco mais delicado, ou que necessite de mais atenção para ser contornado, seja o caso.
Nesse sentido, a profissional explica que as causas pelo desinteresse podem ser de origem orgânicas ou ambientes.
A primeira seria quando criança ou adolescente vai necessitar de uma avaliação profissional para possíveis diagnósticos, como por exemplo:
- TDAH;
- Memória;
- Dislexia;
Já as motivações para desinteresse pela escola provocadas pelos ambientes podem ser mais diversas:
- Repetição de atividades – a criança já aprendeu, já fez, busca por algo novo. “Isso é bem comum com crianças na alfabetização, eles buscam pelo novo, não querem repetir atividades”, comenta Talita.
- Salas com muitos alunos – isso dificulta o processo de aprendizagem. “Podem haver muitas distrações na sala, como conversas, por exemplo. Além disso, há também a questão de conseguir acompanhar todos os alunos”, lembra
- Didática e a mesma metodologia – A profissional recorda que se não houver uma prática pedagógica adequada, o aluno perde o interesse.
- Relação professor-aluno – Para Talita, o bom relacionamento é tudo, ela destaca que as crianças precisam sentir confiança no professor;
- Espaço físico – por vezes o local ou escola não são aconchegantes ou adequados para a criança desenvolver sua aprendizagem, aponta a psicóloga.
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O que pode ser feito para contornar o desinteresse pela escola?
Apesar de tudo, mudar essa situação e impactar positivamente o aprendizado do seu filho não é uma tarefa impossível. O primeiro passo, ensina Talita, é uma boa supervisão dos pais, por mais difícil que possa ser. “É complicado sentar e ensinar, enquanto pais não temos essa didática, mas fazemos o possível”, reflete.
Em seguida, é necessário estabelecer disciplina e rotina. Segundo a psicóloga, esses são pontos fundamentais para manter o aprendizado. Ela instrui para que os pais informem aos filhos qual é o horário da atividade e organizem um espaço para que isso aconteça, principalmente para as crianças pequenas.
A especialista conta que eles sabendo a ordem dos acontecimentos no dia e o local onde isso acontece, torna o processo mais tranquilo.
A lição mais importante, porém, é saber respeitar o tempo limite da criança. É pouco produtivo querer que o pequeno se mantenha 3 horas do dia fazendo atividades sabendo que não produz todo esse tempo.
“O certo é ver quanto tempo seu filho consegue se manter focado e usar isso a favor do aprendizado, assim como nós adultos temos um determinado tempo de concentração, eles também têm”, complementa.
Tornando o ensino lúdico
Apesar de ser importante que os momentos para aprender sejam valorizados, eles não podem ser sofridos para as crianças, uma vez que elas estão sensíveis a questões de saúde mental.
A dica então é valorizar a aprendizagem em outras formas:
Talita sugere trazer a criança para fazer um bolo e aproveitar para trabalhar matemática. As médias e quantidades do que vai para executar a receita podem ser exemplos.
A família é a chave
Não é apenas o engajamento com o conteúdo que está desfalcado sem o ensino presencial. Para Talita, ir à escola instiga a criança ao conhecimento cognitivo, ao convívio social e afetivo. Tudo isso ajuda também no interesse, para aprender com significado e sentido.
“A atividades remotas estão sendo importantes nesse momento para não perder o contato com o ato de aprender. Mas essa não é a essência do ensino-aprendizagem, não é totalmente significativo”, cita a psicóloga.
Ela reforça que a parceria entre pais e a escola é muito importante nesse momento. Porém há de se compreender que mãe e pai não são professores, eles apenas podem fazer o que está ao seu alcance.
Seja em maior ou menor escala, impactado ou não pelo novo coronavírus, um elemento é central para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes: a família.
É um desafio que se apresenta para todos. Por isso é tão importante que os familiares incentivem os pequenos. Esse já é um grande passo.