aleitamento materno prolongado

Pesquisa britânica indica que o aleitamento materno prolongado pode melhorar a capacidade cognitiva de crianças. Saiba mais nessa entrevista especial do Agosto Dourado

De acordo com o resultado de um estudo realizado por profissionais da Universidade de Oxford, no Reino Unido, a duração do período de amamentação pode estar associada a melhores pontuações cognitivas dos 5 aos 14 anos de idade, independente de condição socioeconômica.

Para chegar a essa conclusão, a investigação liderada pelos pesquisadores Reneé Pereyra-Elías, Maria Quigley e Claire Carson, acompanhou 7855 crianças nascidas entre os anos de 2000 e 2002 até completarem 14 anos de idade. Aqueles que foram amamentados por mais tempo tinham um melhor desempenho cognitivo em testes verbais e espaciais.

A verdade é que a amamentação é um ato importante e que reforça a saúde de bebês e mães. È algo que vai muito além da mera alimentação e acarreta muitos outros benefícios.

Esse fato, é uma das justificativas para o surgimento da Semana Mundial de Amamentação, promovida pela Organização Mundial de Saúde. A ação é lembrada anualmente entre 01 a 07 de agosto.

Ampliando esses esforços em nosso país, a Lei 13.435, de 2017, instituiu o Agosto Dourado. Assim, todo o mês é voltado para reflexões relativas à amamentação no Brasil. Para saber mais sobre o tema, conversamos com a nutricionista materno-infantil Ane Cunha (CRN-8 14365).

Na sua opinião, o aleitamento materno prolongado pode ter influência no desenvolvimento cognitivo das crianças?

Ane Cunha: Sem dúvidas. Um dos fatores que interferem no processo cognitivo da criança é o genético. Nesse sentido entra a amamentação e o aleitamento materno prolongado.

O leite materno possui a composição exatamente necessária ao bebê, especialmente nos primeiros seis meses de vida, podendo se estender até os dois anos de idade. Esse é justamente quando temos o maior pico de desenvolvimento neuropsicomotor.

Isso deve-se a alguns componentes do leite, como os ácidos graxos, principalmente as provenientes do ômega 6 e 3. Essas substancias não são encontradas em quase nenhuma das fórmulas suplementares industrializadas. Elas atuam na construção de células na retina e do sistema nervoso central, principalmente.

Fora o aspecto químico do leite materno, outro que exerce papel fundamental nesse processo é o vínculo estabelecido entre mãe e bebe, o que é capaz de reduzir o estresse e a irritabilidade. É esse relacionamento que torna possível um melhor avanço neurológico e cognitivo.

De maneira geral, qual é o tempo mínimo e máximo de amamentação?

Ane Cunha: Segundo a OMS e a UNICEF, as crianças devem iniciar a amamentação na primeira hora do nascimento, e seguirem amamentadas exclusivamente pelos primeiros seis meses de vida. Isso significa que nenhum outro alimento ou líquido devem ser fornecidos, incluindo água.

Essa amamentação deve ser preferencialmente realizada sob livre demanda, ou seja, quantas vezes a criança quiser.

Posterior aos seis meses de idade entra o aleitamento materno prolongado. Nesse período deve-se iniciar a introdução alimentar complementar, e continuarem a serem amamentadas sob livre demanda até os dois anos de idade ou mais. Após os 24 meses da criança, a mãe deverá identificar e estabelecer o momento ideal para o desmame.

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Quais os demais benefícios da amamentação e do aleitamento materno prolongado?

aleitamento materno prolongado promove benefícios para mães e crianças
aleitamento materno prolongado promove benefícios para mães e crianças

Ane Cunha: Crianças amamentadas têm melhor desempenho em testes de inteligência, menor probabilidade de estarem acima do peso ou obesas e são menos propensas a diabetes na vida adulta e infantil.

O aleitamento materno prolongado também proporciona menores índices alérgicos, menor risco de mortalidade infantil e síndrome da morte súbita.  Além de que são menos suscetíveis à diarreia e pneumonia, bem como outras doenças respiratórias e gastrointestinais, uma vez que o leite materno atua como um grande fortalecedor imunológico da criança, evitando muitas doenças infecciosas.

Quais os nutrientes oferecidos pelo leite materno para o bebê?

Ane Cunha: Todas as Vitaminas estão presentes em quantidades suficientes no leite materno, com exceção da D. Porém em crianças amamentadas exclusivamente a necessidade é suprida a longo prazo.

Também contamos com todas as classes de Imunoglobulinas (anticorpos, atuantes no sistema imunológico). Além disso, há outros componentes bioativos, enzimas e hormônios.

A mãe também é beneficiada por amamentar?

Ane Cunha: As mulheres que amamentam apresentam um menor risco de câncer de mama e ovário, artrite reumatoide, de osteoporose (com 65 anos de idade) e menor chance de desenvolver esclerose múltipla.

Também ocorre a redução do tamanho do útero de forma mais rápida, favorecendo a diminuição do sangramento pós-parto.

Ademais, favorece amplamente o retorno ao peso pré-gestacional. Essas mulheres tendem a ter melhor humor e menor estresse após as mamadas devido ao hormônio (ocitocina) liberado.

Quando o aleitamento materno é contra indicado? O que a mãe pode fazer quando não pode amamentar?

Ane Cunha: O aleitamento materno é contraindicado quando a mãe apresenta doenças cardíacas, renais, pulmonares ou hepáticas graves, depressão e psicose grave, uso de drogas incompatíveis com a amamentação. Mães infectadas pelo HIV ou pelo vírus HTLV, com varicela nos primeiros seis dias após o parto, portadoras de citomegalovírus para recém nascidos prematuros. Também na quimioterapia e radioterapia oncológica materna.

Em crianças é contraindicado as que apresentam galactosemia, doença rara em que ela não pode ingerir leite humano ou qualquer outro que contenha lactose.

Nas demais doenças causadas por outros vírus, bactérias e fungos, o profissional de saúde deve realizar uma avaliação, mas na maioria dos casos, o aleitamento materno é mantido, pelos benefícios que oferece, superando as desvantagens nestes casos.

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Por fim, Que conselho você daria para as mães que não conseguem amamentar ou que não têm condições de manter o aleitamento materno exclusivo?

Ane Cunha: O conselho mais importante, não só para essas mães, mas sim todas, relacionado a todas as questões que permeiam a maternidade seria: não se culpe!

Seja qual for o motivo que te fez não poder ou não querer amamentar, a culpa não é sua. Não amamentar não te torna menos mãe, seu filho não vai receber menos amor e afeto.

Procuro tranquilizar muito as famílias no sentido de que hoje em dia existem muitas fórmulas de qualidade excelente. Sempre avalio junto ao quadro clínico do bebê qual seria a melhor para o caso, já que encontramos fórmulas específicas para inúmeras questões. Existem opção para intestino, ganho de peso, refluxo, alergias, etc.

E ainda reforçando com mais um conselho: mamães, vocês não estão sozinhas, busquem ajuda! A rede de apoio é fundamental nesses casos. Não só da família, mas como de profissionais da área. Busque uma consultora de amamentação, vá ao banco de leite da sua cidade, converse com outras mães. Mas tranquilize-se.

A melhor mãe para um bebê é uma mãe feliz. Tudo é aprendizado nessa vida. E o que podemos dizer sobre a maternidade se não um grande aprendizado? Não é mesmo?

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