A linha entre o os benefícios e malefícios de se fazer procedimentos estéticos e mudar o próprio corpo pode ser tênue
A cada passo surge nas editorias de variedades matérias sobre um novo Ken Humano. O mais recente detentor do título, o influencer especializado em estética, Júnior Beviláqua, foi apresentado no programa de Rodrigo Faro, na Record TV.
O jovem afirma ter gastado mais de 400 mil reais, totalizando 50 procedimentos estéticos, para chegar em sua forma atual.
Ele não está sozinho no grupo dos que recebem a alcunha de personificar bonecos. A lista de pessoas que assumem a posição é tão extensa quanto a variações dos brinquedos no mercado.
Parceira e provavelmente mais famosa que Ken, a Barbie também tem suas representantes. No Brasil, a mais recente modelo a conseguir tal reconhecimento foi Graziella Real.
O caso mais famoso, porém, é da modelo ucraniana Valeria Lukyanova. Sempre envolta em polêmicas, ela chegou a adotar uma dieta chamada “breatharianism”, algo como respiratorianismo, em tradução livre.
O regime praticado consistia em deixar de comer e beber, passando a viver apenas de oxigênio e raios solares. Não é preciso falar que isso pode ser bastante perigoso para a saúde.
Insatisfação com a própria imagem
Se transformar esse ponto pode indicar a presença de alguns problemas de saúde mental. De acordo com a psicóloga Jéssica Riélly Katchorovski (CRP 08/27953) as pessoas têm se preocupado cada vez mais com a aparência.
“Essa busca por um suposto ‘corpo perfeito’ pode ser excessiva e ser um sintoma da síndrome da distorção da autoimagem”, alerta.
A psicóloga ressalta que a insatisfação com o próprio corpo gera prejuízos comportamentais e psicológicos. Ela lembra que a autoestima é um dos maiores recursos do ser humano para viver bem e com qualidade de vida.
Nesse sentido, uma intervenção estética pode ter efeito positivo ou negativo, sendo, como cita Jéssica, a porta de entrada para um equilíbrio ou desequilíbrio total entre corpo e mente.
Esse fenômeno se traduz, então, em casos como o da dieta adotada por Valeria Lukyanova. Não é preciso lembrar que isso apresenta claros riscos à integridade física.
“A preocupação com a estética vem superando a preocupação com a saúde, desse ambiente, surgem as pessoas que não enxergam limites na busca pela perfeição. Todo mundo tem direito de se sentir bem, mas é preciso estabelecer um limite”, pondera a profissional.
Os procedimentos estéticos e o vício em modificar a própria imagem
Essa insatisfação com o que o espelho mostra se traduz, por vezes, em um exagero nas transformações corporais. Isso é observador principalmente em procedimentos estéticos como cirurgias plásticas.
“Existem dois tipos de pessoas que são viciadas em cirurgias plásticas: quem sofre dismorfofobia, ou transtorno de imagem, e as vítimas dos padrões de beleza”, explica Jéssica.
Para a especialista, a preocupação com a estética é naturalizada no cotidiano do brasileiro. Essa situação pode ter reflexos, também, em outros transtornos, como os alimentares.
Segundo a psicóloga, a origem de doenças como anorexia nervosa e bulimia pode ser por conta das pressões oriundas dos padrões de beleza estabelecidos.
O bullying e as representações midiáticas de corpos inalcançáveis também são fatores que pesam na equação entre aceitação ou não da própria imagem.
“Esses distúrbios são geralmente adquiridos na fase da adolescência e desembocam em graves problemas psicológicos”, alerta.
Equilíbrio ao fazer procedimentos estéticos é essencial
As consequências do abuso de transformações com a imagem e suas origens podem assustar. Porém, por outro lado, os procedimentos estéticos podem ter efeitos positivos.
Entretanto é preciso entender de forma clara as motivações e as reais mudanças que essa escolha irá desencadear.
“É essencial ter certeza de que a pessoa realmente vai se beneficiar dessa cirurgia e ela terá pontos positivos. Que as mudanças sejam funcionais para vida dela. Que elas cessem a baixa estima e a necessidade que ela procurava ao realizar o determinado procedimento”, explica.
Além disso, a busca por um profissional de qualidade e acompanhamento de especialistas durante o processo é fundamental. Assim, é possível chegar a um equilíbrio e obter um resultado satisfatório e saudável.
“Ter uma auto imagem que agrade a si mesmo deve ser totalmente íntimo. A forma que a pessoa se vê, se aceita e se constrói diante de si, e fica bem com essa imagem cabe a ela mesmo”, completa Jéssica.
O que é o transtorno de imagem? A psicóloga Jéssica Riélly Katchorovski nos ajuda a entender
“É o transtorno dismórfico corporal (TDC), também chamado de dismorfofobia. Essa doença se caracteriza pela preocupação excessiva com o corpo, com um ou mais defeitos inexistentes ou sutis da aparência”.
“Isso faz com que a pessoa supervalorize pequenas imperfeições ou imagine essas imperfeições de uma forma muito aumentada. Esse mal resulta em forte angústia, prejudica a capacidade funcional do ser, acarretando um impacto muito negativo para a sua autoestima, além de afetar sua vida no trabalho, escola e no convívio com amigos e familiares”.
“As pessoas normalmente passam muitas horas por dia se preocupando com um suposto defeito, que pode estar em qualquer parte do corpo”.
Características:
- Afeta mulheres e homens igualmente;
- Tem início na adolescência;
- Pode ser potencializado por fatores genéticos, comportamentais e ambientais;
- O tratamento se dá por medicamentos e sessões de psicoterapia focadas.
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