Quando procuramos um médico é porque alguma coisa não vai bem com nossa saúde, e quando entramos no consultório para o atendimento é comum nossa pressão subir, sentir certo mal estar geral, boca seca, algum tremor, nosso coração bate mais rápido. Estes sinais e sintomas são manifestações da nossa ansiedade em que o sistema nervoso simpático e parasimpático estão em desequilíbrio ligados a uma defesa arquétipica, geralmente associado a perigo. Cabe ao médico tranqüilizar o paciente, entendendo essas manifestações. Iniciamos este artigo falando sobre o importante papel da psicologia médica na relação médico paciente. Algumas faculdades de medicina tem em seu currículo esta cadeira e talvez seja uma das mais importantes matérias que o jovem médico deve incorporar em sua formação para tornar-se mais sensível no trato do paciente.

Na história da medicina atribui-se a Hipócrates, médico grego considerado Pai da Medicina que viveu no último milênio a.C., o aforismo “curar algumas vezes, aliviar o sofrimento muitas vezes e confortar sempre”. Nessa época, os hospitais da Grécia eram um misto de hospital e templo consagrado ao deus da medicina, não incluindo nesses locais os doentes muito graves e os pacientes terminais. O apelo ao sentimento piedoso de calor e solidariedade humana, como missão adicional do médico só vem com influência do Cristianismo: “faça aos outros aquilo que queres que façam a você”. Os deuses da mitologia grega foram substituídos por Cristo, e o juramento de Hipócrates passa a falar mais na nova missão do médico, ou seja, cuidar de todos os tipos de paciente, mesmo aqueles sem possibilidade de cura, consolar sempre.

A história da clínica médica, sem dúvida teve início há 2500 anos com Hipócrates na Grécia, precisamente na Ilha de Kos. Cabe a ele a introdução da anamnese (coleta de dados e sintomas), como etapa inicial do exame médico e assim nasceu a observação clínica que compreende a história da doença. Sem dúvida, foi com Hipócrates que ocorreu a grande transformação da medicina mágica, que prevalecia na antiguidade, para a medicina racional de nossos dias. Vemos que a medicina racional de nossos dias fragmentou-se em diferentes especialidades. Este é um fato histórico nos anais médicos, com os quais temos que aprender a conviver e tirar proveito em favor do paciente.

È inegável que a medicina é uma das mais respeitáveis atividades que o homem pode exercer, porque ela lida com o corpo e a alma do ser humano. Ao corpo cabe a clínica médica estudá-lo e tratá-lo e a alma cabe a psicologia médica e a psiquiatria. A psicologia clínica nasceu porque trouxe a cura pela palavra. Sabemos e sentimos que a palavra do médico atenua ou cura os conflitos humanos.

Sigmund Freud, como médico neurologista, descobriu que poderia tratar das pessoas não só com medicamentos, mas também com palavras. Teve a sensibilidade de ouvir e prestar atenção no paciente de uma maneira mais completa. O que falta ao nosso médico contemporâneo é a sensibilidade para discernir entre a doença do corpo e da alma. O médico moderno terá que investir e aprofundar sua cultura no conhecimento de si e do seu paciente, e não esquecer que o paciente é corpo, mente e alma. Num futuro mais próximo, é importante não deixar que a máquina sobreponha-se sobre a figura e a pessoa do médico, pois a máquina não expressa sentimentos, não ri e não chora, características marcantes do ser humano que continuará sempre a ser um mistério por mais que nos aprofundamos na ciência e esse é o desafio da medicina – a ciência do corpo e alma, a eterna luta entre a morte e a vida, saúde e doença.

 

Edson Crema – Cardiologista

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