(Foto: Fiocruz)

Um grupo de pesquisadores brasileiros desenvolveu a primeira caneta de adrenalina autoinjetável do país. A medicação, quando disponibilizada nesse tipo de dispositivo, é aplicada pelo próprio paciente, em casos de reação alérgica grave e potencialmente fatal, quadro médico conhecido como anafilaxia.

De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), a adrenalina figura atualmente como o único medicamento disponível no mercado capaz de tratar casos de anafilaxia. No entanto, o modelo autoinjetável, entretanto, só pode ser adquirido no Brasil por importação, o que torna o custo extremamente elevado.

O médico Renato Rozental coordena a equipe responsável pela caneta nacional. De acordo com ele, apesar de ser o primeiro protótipo brasileiro, não se trata de uma “inovação radical, mas agora se tornou mais acessível para os brasileiros, que antes precisavam importar o medicamento.

A maior parte da população brasileira, não apenas via Sistema Único de Saúde (SUS) mas também na rede privada, não tem acesso. O que fizemos foi estruturar, observando canetas já existentes no mercado. O processo é muito rápido. Começamos a conversar no ano passado e já temos um protótipo funcional agora.

Anafilaxia

O presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Fábio Kuschnir, alertou para um “aumento exponencial” de alergias no Brasil – incluindo casos de anafilaxia.

“Há 30 anos, em hospitais públicos especializados no tratamento de alergia, referência para esses casos, a gente via 8 ou dez 10 por ano de crianças com alergia a leite de vaca. Hoje, vejo isso em uma semana”.

Segundo ele, os alimentos figuram, no país, como a principal causa de alergia entre crianças – sobretudo leite e ovo.

Não é lagosta ou algo que se come eventualmente. E essa criança com alergia alimentar fica muito mais exposta na rua do que quando está dentro de casa. Com isso, a qualidade de vida de toda a família fica muito ruim. Eles vivem esperando uma reação grave. Temos casos de crianças que caminham pela sessão de laticínios do mercado e têm reação.

Como funciona a reação?

Já entre adultos, a principal causa de alergia, de acordo com Kuschnir, são medicamentos – sobretudo analgésicos e anti-inflamatórios. Isso porque os remédios sequer exigem pedido médico no ato da compra. Antibióticos também respondem por um número considerável de casos de alergia na população adulta, além de alimentos como crustáceos e mariscos.

“No caso específico da anafilaxia, trata-se de uma reação alérgica muito grave e que se desenvolve rapidamente. Essa reação causa choque anafilático, uma queda de pressão abrupta e muito grande. Isso faz com que o sangue não circule pelo corpo e não chegue ao cérebro. O organismo libera uma substância chamada histamina, que causa uma reação generalizada e pode afetar pele e pulmão, além de causar broncoespasmo e edema de glote, fechando as vias aéreas superiores.”

Sendo assim, de acordo com o especialista, a adrenalina reverte todos esses sintomas. Se a pessoa começa a ter uma reação dessa e aplica a adrenalina, no prazo de um a cinco minutos, é possível reverter quase totalmente o quadro de anafilaxia. Ou até mesmo permite que essa pessoa vá ao hospital completar o tratamento.

Não é só sobre o acesso à adrenalina. Preciso de um dispositivo que facilite o uso. E a caneta brasileira pode ser aplicada, na parte lateral da coxa, por uma pessoa que não tem formação em saúde.

Segundo Kuschnir, a estimativa é que a caneta de adrenalina autoinjetável desenvolvida por pesquisadores brasileiros chegue ao mercado nacional custando em torno de R$ 400.

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