Trabalho e qualidade de vida estão intimamente ligados. O excesso ou a falta podem impactar o bem-estar. Encontrar o equilíbrio é fundamental, inclusive para os próprios empregadores
Faz parte de quem nós somos e como nos identificamos. Ele ocupa, em média, um terço de nossos dias. É para onde vamos por quase toda fase adulta.
Para filosofia ele é transformação, já para a economia, produção. Estamos falando do trabalho, a atividade remunerada que guia nossos estilos de vida.
Tão presente no cotidiano, as implicações que trabalhar exercem sobre as pessoas e a sua qualidade de vida podem passar facilmente despercebidas.
A verdade é que o impacto pode ser bem grande. O excesso de funções, a insatisfação com algum aspecto ou até mesmo a falta de emprego podem afetar negativamente a saúde e o bem-estar de indivíduos.
Excesso
O psicólogo Carlos Leonardo dos Anjos (CRP/PR 08/32247) lembra que os brasileiros, por vezes, investem bem mais que as 8 horas que os expedientes duram em média com suas atividades laborais.
“Atualmente, muitos vivem mais tempo em seu trabalho do que em sua própria casa. Geralmente, as pessoas saem cedo para trabalhar e voltam apenas no período da noite. Assim, acabam vivendo muito tempo no trabalho e para ele”, recorda.
Ele explica que por conta disso, a vida pessoal acaba ficando de lado, desiquilibrando a relação entre trabalho e qualidade de vida. Nesse sentido, atividades importantes para a manutenção da saúde acabam renegadas. Por exemplo, hobbies, afazeres domésticos, atividades físicas e demais responsabilidades cotidianas perdem espaço e acabam acumulando.
Não desligar do trabalho, segundo o psicólogo pode ser nocivo. Pensar em coisas relacionadas a esse tema, se preocupar com produção ou a cobrança de superiores, ou até mesmo relações complicadas com colegas e chefia, são alguns pontos que podem gerar desgaste emocional ao indivíduo.
“De fato, o trabalho quando é a tarefa principal da vida do indivíduo, em que ele coloca o trabalho acima do seu bem-estar e não busca melhorar a sua qualidade de vida de uma forma geral, esse indivíduo acaba contraindo, se já não tiver, doenças psicológicas graves”, explica Carlos.
Entre as condições que o profissional de saúde mental aponta como passível de aparecerem nessa situação estão a depressão, o estresse e a ansiedade.
Além disso, o corpo também pode apresentar questões patológicas, como problemas cardíacos e vários tipos de câncer.
Falta de emprego
Se por um lado trabalhar demais é ruim, a sua ausência também tem consequências.
“Algo também que é importante de ser falado é que tal qual o trabalho em excesso é ruim para o indivíduo, a falta de trabalho também pode ser um fator que prejudicará a qualidade de vida”, aponta Carlos.
Essa realidade vem chamando a atenção. Atualmente, 13,7 milhões de brasileiros estão desempregados, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a PNADn do IBGE, em outubro de 2021 e referentes ao 3º trimestre do ano. Isso equivale a 13,2% da população em condição de trabalhar.
Outro dado que se soma a essa crise são o número de pessoas subocupadas. De acordo com o IBGE, nesse grupo se encaixam aqueles indivíduos desocupados, subocupados por insuficiência de horas trabalhadas ou na força de trabalho potencial. Atualmente no Brasil são mais de 7,5 milhões de pessoas nessa situação.
Esses números contribuem para a queda na renda mensal da população. Em um ano, a diminuição 10,2%.
Não ter certeza de como irá colocar comida na mesa e arcar com as dívidas, faz com que a pessoa sofra.
“Alguns impactos emocionais sobre o desemprego são vivências depressivas, desânimo, pensamentos suicidas, tensão, insegurança, insônia, dores generalizada, mau humor e brigas familiares, neuroses, psicoses, síndrome de pânico, depressão, fobia social, ansiedade e outros”, cita o psicólogo Carlos. “Isso acaba prejudicando a qualidade de vida do sujeito, que por muitas vezes, acaba se sujeitando a trabalhos em que trabalha muito e recebe pouco”, completa.
Veja mais: O que é qualidade de vida? 10 dicas para melhorar a sua
Fome também desiquilibra a relação entre trabalho e qualidade de vida
A fome e os impactos da alimentação insuficiente também surgem como um agravante.
Números levantados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), demonstram que mais de 19 milhões de brasileiros passam mais de 24 horas sem comer.
Segundo o artigo “Insegurança alimentar cresce no país e aumenta vulnerabilidade à Covid-19”, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, isso tem impactos na saúde, como a pouca energia, que por sua vez acarretará na parte cognitiva e física. Isso pode levar à perda de memória, a quadros de anemia e até à morte. Além disso, as pessoas ficam mais sensíveis às consequências da Covid-19.
Trabalho e qualidade de vida também estão ligados ao aumento da produtividade
Quando o assunto é a relação entre trabalho e qualidade de vida, as empresas também podem obter vantagem. Isso ocorre quando existe o equilíbrio entre esses fatores.
“Contribui de forma positiva para a produtividade. Os trabalhadores ficam mais dispostos e motivados, podendo trazer grandes resultados”, aponta Carlos.
O psicólogo cita elementos importantes de serem organizados para que o ambiente de trabalho possa garantir bem-estar aos seus funcionários:
- Promover palestras e eventos de formação;
- Deixar o ambiente agradável (uma boa cozinha, lugar para os funcionários descansarem, jogos etc);
- Evitar discussões e atritos.
Há, ainda, mais um passo, que parece ser o primordial. “Passar a olhar para as pessoas com um olhar mais humano. Sabendo que o indivíduo ali não é apenas ‘produção’, e sim, um ser emocional que está produzindo. E, esse ser, precisa estar bem e motivado”, finaliza.
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