No dia do psicólogo, conversamos com o profissional Felipe Bini (CRP 08/23242), que defende uma atuação mais crítica da área
Hoje, 27 de agosto, é comemorado o dia do psicólogo. Além de celebrar a ocasião, parabenizando a todos os profissionais desse campo, aproveitamos a data para promover uma reflexão.
O psicólogo clínico e professor de psicologia Felipe Bini, nos explica porque uma visão mais crítica e que considera a origem social dos problemas psíquicos é importante.
Você defende que o dia do psicólogo seja também um dia de reflexão, por quê?
É importante que o psicólogo reflita e tenha conhecimento da própria prática, do conhecimento que ele exerce. Para que ele não volte a praticar ações e não use técnicas que possam causar uma aprofundamento ainda mais das desigualdades, preconceitos e do sofrimento psíquico, causado por relações de poder.
Ao vir para o Brasil, a psicologia é importada como uma área voltada para a saúde. É geralmente utilizada por médicos, que praticam um trabalho bastante higiênico. Quando a profissão realmente se forma, que é o que a gente comemora na data de hoje, no dia do psicólogo, ocorre uma institucionalização. Como consequência, temos a regulamentação da profissão, o desenvolvimento de uma área de conhecimento e uma prática profissional.
O que acontece é que a psicologia pode ser um instrumento que está nos poderes instituídos, utilizando práticas que acabam reforçando as relações de poderes.
Mas quando a coisa vai evoluindo, vai sendo profissionalizada, vai se constituindo como uma categoria de profissionais que vão olhar criticamente para essa institucionalização. A partir dessa visão, passamos a entender a prática psicológica como uma prática política também. E é aí que a coisa começa a mudar um pouco.
Por que é importante que a psicologia seja encarada com esse viés político?
Essa tomada da psicologia, enquanto um saber, mas também enquanto uma prática política, é importante que a gente sempre tenha em mente.
Psicologia não é um dom nem opera milagres. Ela é fruto de estudos e precisa ser atuado de forma ética. Ela pode ajudar as pessoas lidar com suas dificuldades, mas quando isso fica voltado só pra um aumento de produtividade pode gerar mais sofrimento psíquico
O conhecimento mais amplo e mais crítico, que consegue olhar para as estruturas da sociedade e perceber onde estão os reais problemas. Isso identifica aquilo que causa ou movimenta o sofrimento psíquico. Com isso, vai se propor, então, uma psicologia que é transformadora também.
Essa psicologia requer muito estudo e possibilidades de ser praticada. Ou seja, lugares onde a gente pode se inserir e se utilizar desse conhecimento. Requer inclusive que a gente possa identificar nossos próprios erros e também as falhas que não são individuais, mas no cerne da sociedade. Elas estão presentes também em como se organiza, como ela gere esse sofrimento psíquico.
É necessário esse olhar para que a gente possa promover transformações. E, indo além, que as mudanças sejam mais igualitárias. Que tragam mais equidade e que proporcionem, daí sim, realmente, formas de transformar a sociedade e lidar com o sofrimento psíquico que sejam coletivas.
O que seria essa transformação coletiva?
Ao mesmo tempo que cada um sofre de sua própria maneira, todo mundo sofre a partir de uma realidade muito similar. Por exemplo, todo mundo sofre com trabalhos exaustivos. Mesmo que a maneira que o sofrimento se dê em cada um seja diferente. Gerando assim uma mudança social maior
A partir do ponto em que nenhuma ciência é neutra. Ela sempre vai ser política, e muitas vezes a gente tem percebido que ela cai no aspecto da produção. De estar sempre produzindo, com mais produtividade. Tratando de sintomas individuais e buscando fazer com o que sujeito siga trabalhando à exaustão.
Então, o que a gente propõe com a psicologia que possa ser crítica e gerar transformação. Dessa forma, não caindo em um lugar comum, pensando apenas a psicopatologia, voltada apenas à proteção do indivíduo. Mas, que possa gerar uma força comunitária maior. Uma crítica que crie a transformação real de nossas relações.
É a partir disso que a gente defende a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) e o SUS. Juntos, são um sistema que vai pensar a partir dessas formulações. Para que isso sempre possa seguir, inclusive com os princípios que norteiam essas práticas, como da equidade, da universalidade, de um atendimento integral. E, além disso, que vai pensar o sujeito como um todo e inserido em seu contexto sócio histórico.
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