A psicóloga Clínica Liridiane de Melo Fabrício (CRP 08/22774) concedeu essa entrevista. Ela nos ajuda a entender melhor o que são os transtornos alimentares, que pode se manifestar de formas distintas.
O que é considerado um transtorno alimentar?
Os transtornos alimentares são definidos como uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento alimentar. Eles fazem com que o indivíduo se relacione de forma alterada com a alimentação afetando negativamente sua saúde.
Conforme o Manual Estatístico de Transtornos Mentais 5º (DSM – V) são considerados transtornos alimentares os seguintes:
- bulimia nervosa;
- anorexia nervosa;
- compulsão alimentar;
- transtorno de ruminação;
- transtorno alimentar restritivo/evitativo;
- síndrome do comer noturno.
Como é possível perceber um transtorno alimentar?
A alimentação deve ser algo prazeroso e saudável em nossa vida, comportamentos alimentares que gerem sofrimento psicológico devem ser olhados com atenção.
Alguns pontos que o indivíduo e familiares devem estar atentos são:
- mudança significativa na quantidade de alimento ingerido (tanto para mais quanto para menos);
- preocupação exagerada com o peso;
- sentimentos excessivos de culpa ou vergonha;
- alteração significativa de peso em pouco tempo;
- sensação de falta de controle sobre a alimentação;
- comportamentos compensatórios como vômitos autoinduzidos;
- uso indevido de laxantes, diuréticos;
- jejum e exercícios em excesso.
Caso a família ou o indivíduo observe a presença de alguns destes comportamentos recomenda-se a procura de um psicólogo para um melhor diagnóstico e tratamento.
Porque muitas pessoas não se enxergam com um problema como esse?
Nossa sociedade age de forma direta nessa questão, impondo um padrão estético específico e com um mercado enorme de promessas milagrosas para o emagrecimento.
Além disso, há uma onda recente de “vida saudável” e “fitness” que acaba gerando uma preocupação com a imagem corporal de forma descompensada mas que diante desse cenário soa como uma certa normalidade.
Muitas pessoas só conseguem perceber que não estão bem quando o transtorno alimentar está comprometendo significativamente a vida do paciente.
Problemas afetivos, traumas, perdas familiares podem desencadear a doença?
Sim, a alimentação pode ser uma forma do indivíduo descontar seu sofrimento, da mesma forma que pode não sentir vontade em comer e desenvolver um comportamento restritivo.
Momentos que geram sofrimento psicológico podem alterar alguns comportamentos do paciente, incluindo a rotina alimentar, sua auto avaliação, prioridades, motivação, entre outros.
Como o apoio psicológico exerce um papel importante no processo de tratamento?
O psicólogo irá primeiramente acolher o paciente e realizar a avaliação verificando se a queixa apresentada se enquadra nos critérios de diagnóstico apontados no DSM-V para transtornos alimentares.
Uma vez diagnosticado o transtorno alimentar, o profissional auxiliará o paciente a modificar os pensamentos e comportamentos disfuncionais em relação a alimentação e a sua imagem corporal e trabalhar a autoestima que costuma estar prejudicada. Além disso, o paciente pode apresentar outras demandas como ansiedade, processo de luto, depressão, entre outros, que serão tratados paralelamente.
O objetivo é que o paciente consiga ter uma melhora na sua qualidade de vida, sinta-se bem consigo mesmo e tenha uma relação saudável com a alimentação.
Existe um perfil de pessoa com mais probabilidade a ter transtornos alimentares?
Existem alguns fatores de riscos que são apontados no próprio DSM-V, sendo estes:
- pessoas que apresentam transtorno de ansiedade ou que apresentaram traços obsessivos na infância;
- pessoas que ocupam cargos que primam pela magreza (como por exemplo: modelos e atletas de elite);
- parentes de primeiro grau de indivíduos com o transtorno;
- obesidade infantil;
- transtorno depressivo;
- bipolar;
- transtorno do espectro autista.
Pode nos explicar quais as diferenças entre os principais transtornos alimentares?
Anorexia é caracterizada pela restrição de ingestão de alimentos levando o indivíduo a ter um peso corporal significativamente baixo, porém a pessoa se vê com uma imagem corporal distorcida. Além disso, tem um medo intenso de engordar e comportamentos que interferem no ganho de peso.
Já na bulimia o indivíduo apresenta episódios de compulsão alimentar e comportamentos compensatório, ou seja, em alguns momentos o paciente ingere uma grande quantidade de alimentos e depois tenta compensar com de alguma forma, podendo ser com vômito, laxantes, jejuns, exercícios demasiados a fim de tentar impedir o ganho de peso.
Na compulsão alimentar o paciente apresenta episódios recorrentes de compulsão alimentar que são marcados por comer mais rápido que o normal. Além disso, outros sinais são sentir-se cheio ou desconfortável, ingerir grandes quantidades de alimentos mesmo sem estar sentindo fome, comer sozinho por vergonha, sentir-se deprimido ou culpado após comer.
O paciente sente-se como se não tivesse controle sobre a ingestão nestes episódios. A compulsão alimentar se diferencia da bulimia por não apresentar comportamentos compensatórios.
Quando a pessoa se encontra com transtornos alimentares, quem ela deve procurar?
A família e amigos precisam estar atentos para promover um ambiente acolhedor para que o indivíduo.
Deve procurar um tratamento multidisciplinar com psicólogo, nutricionista e médico. Além disso, a família e amigos precisam estar atentos para promover um ambiente acolhedor para que o indivíduo. Para que dessa maneira ele se sinta confortável em contar o que está acontecendo e caso necessário oferecer ajuda.
Os transtornos alimentares podem levar à óbito se não tratados, seja por desnutrição, intoxicação ou comorbidades associadas. Na bulimia e anorexia há risco de suicídio. Por isso a importância das pessoas que convivem com o paciente com o transtorno estarem atentas.