Brasil é o país que mais sofre de ansiedade e tem o maior índice de pessoas depressivas no mundo. Apesar de não existir fórmula mágica, alguns cuidados podem melhorar esse quadro
O dia mal começa e logo vem um vazio. O nó na garganta engrossa. Respirar fica cada vez mais difícil. O tórax parece ser puxado para dentro dele mesmo. “Um buraco no peito, eu sentia muito forte, mesmo quando meu corpo tremia”, como descreve Samuel, de 28 anos, que prefere não revelar seu verdadeiro nome. A descrição inicial é de uma das crises que sofria quando foi diagnosticado com transtorno depressivo-ansioso, em 2019.
Assim como ele, muitas pessoas possuem o mesmo tipo de sintomas no Brasil, considerada
como a nação mais ansiosa do mundo, com quase 10% da população apresentando esse quadro clínico. Em números diretos, são mais de 18 milhões de pessoas, de acordo com a OMS, a Organização Mundial da Saúde. Demais dados da entidade dão conta que o país se destaca, também, com a depressão. Cerca de 5,8% dos brasileiros sofrem desse mal, número que o coloca como o segundo colocado nas américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
A crise de ansiedade, por si só, já apresenta sofrimento para quem dela padece, mas os momentos que seguem os episódios não costumam ser muito melhores, a tristeza e a angústia se aprofundam e deixam de ser possíveis de controlar. “Com o tempo, eu não conseguia fazer minhas funções, estava afetando minha vida profissional e pessoal e eu não encontrava prazer nem em atividades de lazer”, relata o jovem.
Campanhas procuram conscientizar
Pensando em ajudar pessoas como Samuel que um grupo de psicólogos de Minas Gerais lançou, em 2014, a campanha Janeiro Branco. O intuito é aproveitar a noção de recomeço trazida pelos períodos que sucedem o réveillon e chamar atenção para os cuidados com a saúde mental.
Outro movimento, iniciado no ano seguinte, é o Setembro Amarelo, que visa combater o suicídio. A escolha do mês leva em conta o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, 10 de setembro. Por todo o país escolas, universidades, entidades do setor público e privado e a população de forma geral se envolvem nas ações que visam abordar o tema.
Em 2021 o lema do Janeiro Branco foi “Todo cuidado conta”, e segundo o psicólogo clínico Thiago Kenji Hirano (CRP-08/31301), iniciativas como essa contam mesmo. “São formas de tornar acessível informações valiosas sobre a importância da saúde mental e consequentemente os cuidados necessários para se promover uma qualidade de vida adequada, não se limitando apenas ao cuidado com a doença, mas também a sua prevenção”, comenta o profissional.
A hora certa para procurar ajuda é agora
O auxílio de um profissional é essencial. Entretanto, como explica Thiago, não há um momento definido para começar o tratamento. “Essas situações podem ser evitadas, ou diminuídas, se as pessoas lidassem com a sua saúde mental com a devida importância. A procura por um especialista pode ser feita não apenas quando as coisas saem do controle, mas também num sentido de prevenir”, pondera. O autoconhecimento gerado por um processo de psicoterapia pode ser um aliado ao enfrentar as situações de estresse do cotidiano.
Além do trabalho com o psicólogo, consultas ao psiquiatra são indicadas também, já que o médico poderá receitar tratamento medicamentoso. Samuel conta que no seu caso, os remédios ajudaram a lidar com os sintomas momentaneamente, porém, a longo prazo, compreender o processo foi o que mudou sua situação. “Foi essencial para conseguir não só entender melhor as causas da minha condição, como para encontrar meios de melhorar, de sair daquela situação”, relata.
Dicas gerais para melhorar a saúde mental
O psicólogo Thiago Kenji Hirano explica que não existem fórmulas mágicas para que se evite a depressão e ansiedade, já que cada caso possui suas particularidades, mas algumas dicas podem facilitar a promoção da saúde mental:
- Boa alimentação,
- Prática de atividades físicas,
- Horários de sono regrados,
- Reservar um período do dia para o lazer
- Buscar a orientação de um profissional da área da saúde mental caso sinta a necessidade.