Por Juliana Rupel Rodis Grzeidak, Odontopediatra (CRO 23937-PR)

A imagem que vem à cabeça de todo mundo quando se fala no “estrago” causado pela chupeta é somente a da mordida aberta. Porém, ela é a vilã em muitos aspectos: dentição, formação óssea e respiração também são afetadas pelo seu uso. Além da mordida aberta, a criança pode apresentar mordida cruzada posterior (como se a caixa fosse maior que a tampa), a língua fica em uma posição mais baixa e há grandes chances dessa criança tornar-se respiradora bucal.

De certo modo, a chupeta é praticamente uma questão cultural e geralmente é item básico nos enxovais. Isso porque ela tem a fama de acalmar o bebê. E de fato, o faz, porque têm necessidade de sucção desde que nascem, não somente na parte nutricional, mas também na psicológica e para estimular língua, lábios e bochecha. Geralmente a sensação de fome e necessidade de sucção aparecem juntas e, teoricamente, deveriam ser supridas com a amamentação. É aí que a chupeta acalma o bebê: quando só sacia a fome, mas não a sucção, ela auxilia a suprir essa necessidade. Mas atenção: isso não significa que todos os bebês devem usar chupeta. São casos que devem ser avaliados em conjunto com o pediatra, odontopediatra e se possível, uma consultora em amamentação.

Por isso o ideal mesmo é não oferecer, é tentar avaliar todo o cenário e verificar onde está o obstáculo que faz necessário a inserção da chupeta. Mas como costumo dizer para meus pacientes, às vezes precisamos trabalhar com controle de danos. Existem situações onde a chupeta já é oferecida na maternidade, então o que pode ser feito é não permitir que o bebê se acostume com a chupeta, pois sua inserção precoce pode ocasionar confusão de bicos complicando até mesmo a amamentação. Depois de oferecida, seu uso deve ser controlado, assim poderá ser removida gradativamente e de forma tranquila, evitando que ela se torne um vício e um ponto de segurança para a criança. Sendo assim, indicamos que, quanto antes a chupeta for removida melhor, porém, a idade limite para o uso os 2 anos de idade, onde ainda há chances de a estrutura dentária e óssea ter uma autocorreção.

Se a chupeta for removida tardiamente e essa criança não for tratada durante a sua infância, ela terá dentes tortos e um acúmulo de disfunções bucais e/ou respiratórias, situação pode se estender para a vida adulta.  Mas hoje em dia, temos a nossa disposição vários dispositivos ortopédicos individualizados, que podem ser utilizados desde os 5 anos de idade. Ou seja, se tratados desde cedo, serão adultos não somente com sorrisos harmônicos, mas também com plena função mastigatória e respiratória.

Temos que ficar atentos, pois além dos problemas já citados, existem diversas pesquisas que mostram a presença de fungos e bactérias em chupetas novas. Sim, bactérias acumuladas durante o processo de fabricação e armazenamento. Depois que começam a ser utilizadas, constantemente encontram-se em locais ou superfícies onde dificilmente há uma assepsia correta, como mesas, pia do banheiro, bolsas, quando não vão para o chão. Então é necessário que elas sejam higienizadas constantemente, evitando que a chupeta seja a porta de entrada de doenças oportunistas.

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