Não é qualquer medo que pode ser considerado fobia, saiba como distinguir
Todos nós temos medo, uns mais, outros menos. Ele consiste em uma emoção natural que está ligada à nossa sobrevivência. O medo atua para nos proteger e nos afastar de situações, lugares, animais ou objetos perigosos. O que diferencia medo de fobia é a intensidade, a desproporcionalidade e um sentimento exagerado que é ilógico, pois o indivíduo passa a evitar lugares, objetos e pessoas.
Essa emoção, em estágios avançados, tem como base paralisar e diminuir a qualidade de vida do indivíduo. Portanto, quem sofre com uma fobia costuma ter consciência de que ela é irracional, mas não consegue controlar os sintomas, muitos sentem-se envergonhados, pois os outros não compreendem a dimensão desse sofrimento. Em entrevista para a Revista + Saúde, a psicóloga Marionita Gonçalves Dias (CRP-0819772) explica as diferenças entre o medo e a fobia e como podemos enfrentar essas situações.
Revista + Saúde: Como podemos diferenciar o medo da fobia? Poderia exemplificar?
Marionita: Existem várias pessoas que têm medo de andar de avião, mas enfrentam o medo e fazem uso desse meio de transporte, o sujeito que possui fobia de avião acaba abrindo mão de muitas oportunidades na vida para não andar de avião. O medo tornou-se incapacitante.
Revista + Saúde: A fobia é considerada uma doença?
Marionita: Nem sempre. Em alguns casos, a fobia pode ter os sintomas de alguns transtornos mentais. Por isso, para um diagnóstico como esse, é necessário ter clareza do histórico do paciente e avaliar outras hipóteses.
Revista + Saúde: Existem sintomas para a fobia?
Marionita: A fobia não segue uma lógica. A ansiedade é incoerente com o perigo real, costuma ser de longa duração e provoca intensas reações físicas e psicológicas que comprometem a qualidade de vida do indivíduo: sudorese, pânico, falta de ar, taquicardia, consciência que o medo é irracional. Porém, a pessoa não consegue controlar. Lembrando que os sintomas podem variar dependendo de cada caso.
Revista + Saúde: A fobia é desencadeada por traumas? O fator genético pode influenciar?
Marionita: Nem sempre ela acontece através de traumas, como disse anteriormente, pode ser um sintoma de algum outro transtorno mental. Existem indícios que as causas estão relacionadas diretamente ao histórico familiar, por isso, acredita-se que fatores genéticos possam estar associados. É importante salientar que as causas de muitas fobias ainda são desconhecidas pela medicina. Com relação aos traumas, podem desencadear-se em consequência de um evento traumático ou de vários eventos traumáticos ao longo da vida, e assim, levar ao desenvolvimento de uma fobia.
Revista + Saúde: Quais são os principais tipos de fobia?
Marionita: De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) as fobias mais comuns estão divididas em cinco categorias. A primeira é a de animais como aranhas, cobras, sapos e outros. A segunda, está relacionada ao sangue, como injeções, feridas e cortes. A terceira, a situações como andar de avião, alturas, elevadores e metrô. A quarta fobia relaciona-se a medos como o de vomitar ou contrair doenças e, a última está diretamente ligada a aspectos do ambiente natural, como trovoadas, terremotos e outros. Muitos de nós conhecemos pessoas que sofrem com o medo de permanecer em espaços abertos ou fechados, em filas ou em meio a multidão, sendo conhecida como agorafobia. Outras pessoas sofrem ao ter que interagir umas com as outras, e chamamos isso de fobia social ou transtorno de ansiedade social. Já o medo de lugares fechados, como elevadores e ônibus, por exemplo, é conhecido como claustrofobia. Por fim, a aracnofobia é o medo especificamente de aranhas, que inclusive são muito comuns em Guarapuava e região.
Revista + Saúde: Como funciona a psicoterapia para ajudar quem sofre com fobias?
Marionita: Primeiro é necessário procurar profissionais especializados, como psicólogo e psiquiatra, há outros profissionais que não são especialistas em fobias, mas costumam atender muitos casos, como neurologistas, pediatras e clínicos gerais. É muito importante ter o diagnóstico correto para começar a psicoterapia. Na sequência, o profissional irá fazer uma série de perguntas para chegar a um diagnóstico. Caso precise de alguma medicação, essa será administrada pelos profissionais médicos descritos. O psicólogo irá atuar na psicoterapia que é fundamental no tratamento da fobia. O funcionamento da psicoterapia irá depender da abordagem adotada pelo profissional especializado, que nos casos de fobia, as mais indicadas são o cognitivo comportamental e a terapia familiar sistêmica.