As dúvidas são grandes e os conselhos vêm de todo lado. Mas o que realmente importa na alimentação de nossos filhos nesta fase tão importante?
Ter uma alimentação saudável é de extrema importância em qualquer idade, pois auxilia diretamente no desenvolvimento fisiológico, manutenção da saúde e bem estar do indivíduo. Durante a infância, o valor dessa alimentação adequada e saudável se torna muito maior, pois as crianças se encontram em fase de intenso crescimento e desenvolvimento. A partir dos seis meses de idade, a introdução da alimentação aproxima a criança aos hábitos alimentares de quem cuida dela e exige todo um esforço adaptativo a essa nova fase do ciclo de vida. De acordo com a médica nutróloga e pediatra Caroline M. Bortolotto, a alimentação infantil é um assunto amplo, pois cada faixa etária tem suas particularidades. A Revista Mais Saúde reuniu algumas das dúvidas mais frequentes sobre a alimentação dos pequenos, e contou com os esclarecimentos da nutróloga. Vamos a elas:
Crianças precisam necessariamente ter 3 refeições ao dia?
Segundo a médica, o número de refeições varia de acordo com a faixa etária, mas se resume a 3 refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) e 2 ou 3 lanches divididos durante o dia. “Alguns fatores de muita importância neste item é que a criança deve ter uma alimentação diversificada composta de todos os grupos alimentares, de boa qualidade e que siga uma rotina com horários pré-estabelecidos e que sejam seguidos rigorosamente”, explica.
Que alimentos são prioridade no cardápio infantil?
Conforme Caroline, as frutas e verduras são muito importantes na composição da dieta das crianças por serem ricas em fibras, vitaminas e minerais, porém é preciso respeitar a proporção destes alimentos na composição do cardápio infantil.
Mas será que é melhor que as crianças comam frutas com ou sem casca? Segundo a médica, as frutas com casca são ricas em fibras, porém a casca destes alimentos acumulam grande quantidade de resíduos agrotóxicos que tornaria desaconselhado a sua ingestão. “O melhor então é oferecer as crianças frutas com casca de origem orgânica, pois desta forma você estará estimulando o aumento do consumo de fibras. Porém não esquecer a adequada higienização destas frutas”, aconselha.
De acordo com a nutróloga, a carne vermelha é um alimento importantíssimo na dieta infantil por ser um alimento rico em proteína, zinco e ferro. O ferro da carne vermelha é biodisponível, ou seja, um ferro de fácil absorção e muito bem aproveitado por nosso organismo. O zinco é um micronutriente associado à imunidade, à renovação celular e ao paladar. “Crianças com deficiência de zinco tem uma diminuição do apetite pelo paladar estar comprometido. Assim, o consumo de carne vermelha 3x por semana é aconselhável para os pequenos”, ressalta.
Que alimentos devem ser evitados?
A médica explica que a ingestão de alimentos saudáveis pela criança deve ser estimulada desde o início, porém a ingestão de alimentos não saudáveis como doces e refrigerantes deve ser desestimulada, mas não proibida. “Se a criança está dentro do peso e crescimento adequados para a idade e não possui nenhuma alteração como: colesterol e triglicerídeos alterados, glicemia elevada ou alergias alimentares, pode ingerir de 1 a 3x por semana”, diz.
Segundo Caroline, alimentos industrializados, enlatados e embutidos são alimentos pobres em nutrientes, e possuem grande quantidade de sódio e conservantes. Por isso é importante sempre preferir alimentos frescos a alimentos industrializados. “Os macarrões instantâneos, por exemplo, não são boas opções principalmente pelos condimentos utilizados no seu preparo que são ricos em sódio e conservantes, portanto seu consumo deve ser eventual, mas de preferência evitado”, recomenda.
Outra questão interessante são as sopas instantâneas que muitas vezes servem para substituir a refeição de uma criança. De acordo com Caroline, esse hábito não é indicado para os pequenos devido a baixa quantidade de fibras e proteínas e a grande quantidade de sódio presente nesse tipo de alimento. Já as papas prontas podem ser boas opções para ocasiões eventuais, ou seja, quando não houver a disponibilidade de oferecer alimentos naturais e frescos. “No entanto, é importante sempre preferir as tradicionais sopas e papas frescas feitas em casa”, completa.
Os alimentos crus e duros ajudam a desenvolver a musculatura infantil?
A ingestão de alimentos crus e duros, conforme a médica, podem estimular a musculatura facial da criança que facilita o processo de mastigação e deglutição, bem como desenvolvimento da fala. “Porém não podemos esquecer que deve existir um cuidado especial na higienização dos alimentos que serão ingeridos crus, e com os alimentos mais resistentes é preciso ter um cuidado especial com os dentinhos da criança”, acentua.
Café faz mal para crianças?
O café tem como composto principal a cafeína, substância estimulante do Sistema Nervoso Central e que acelera o metabolismo corporal. De acordo com Caroline, por esses motivos o café não é indicado para crianças pequenas, pois assim a cafeína estará agindo num organismo ainda imaturo. Para crianças maiores não existe contra indicação, desde que seja respeitado a quantidade ingerida (aproximadamente 2 xícaras ao dia) e de preferência adicionado ao leite. “Para essas crianças é recomendado que o café esteja presente na primeira refeição do dia e à tarde, para utilizar seu efeito estimulante e não atrapalhar o sono das crianças”, recomenda.
Alimentos com corantes podem causar alergia alimentar?
Segundo a nutróloga, as reações adversas aos conservantes, corantes e aditivos alimentares são raras, mas não devem ser menosprezadas. O corante artificial tartrazina, sulfitos e glutamato monossódico são relatados como causadores de reações. A tartrazina pode ser encontrada nos sucos artificiais, gelatinas e balas coloridas, enquanto o glutamato monossódico pode estar presente nos alimentos salgados como temperos (caldos de carne ou galinha). Os sulfitos são usados em alimentos (frutas desidratadas, vinhos, sucos industrializados) e medicamentos, e têm sido relacionados a crises de asma em indivíduos sensíveis. “É importante dizer que a maioria das crianças não possuem alergias alimentares, e para estas, esses alimentos estão liberados. Mas reforço que a ingestão desses alimentos industrializados deve ser desencorajada, sempre dando preferência aos alimentos frescos e saudáveis”, completa.
A influência dos pais na formação do hábito alimentar é importante?
Segundo Caroline, sim, e faz toda a diferença. A nutróloga explica que o desenvolvimento das preferências alimentares está relacionado com os hábitos culturais e o ambiente que a criança está se desenvolvendo. A percepção do cheiro e do paladar já pode ser percebido pelo feto durante a gestação através do líquido amniótico e após o nascimento através do leite materno. Portanto a mãe pode influenciar a preferência alimentar da criança. “Estudos científicos revelam que mães que tem uma dieta de boa qualidade e composta por todos os grupos alimentares possuem bebês que aceitam uma maior diversidade de alimentos durante a introdução alimentar”, diz.
De acordo com a médica, a influência dos pais e dos hábitos alimentares familiar irá compor o perfil do paladar infantil. “É fundamental durante a infância promover hábitos alimentares saudáveis, incentivar o consumo de todos os grupos alimentares e desencorajar o consumo de alimentos prontos, industrializados e ricos em gordura, açúcar e sal”, completa.
Por: Camila Neumann