A iniciação sexual deve ser orientada através do diálogo
Mesmo após tantos anos de evolução e tantas mudanças ocorridas até chegarmos nos dias atuais, a sociedade ainda não se acostumou com algumas discussões rotineiras, tratando-as com um conservadorismo exacerbado que não corresponde ao período em que vivemos. O diálogo sobre sexo é uma dessas questões. Ainda se mantêm ao redor do assunto um paredão de tabus e receio em discutir o tema, até mesmo entre as pessoas mais íntimas.
Infelizmente, quem sai perdendo com isso são os jovens. Pais e filhos ainda possuem muitas dificuldades em falar sobre sexo e isso tem levado diversos adolescentes iniciarem a vida sexual de maneira desestimulada.
Para a médica hebiatra, Vânia Ferlin, área da medicina destinada aos adolescentes, o sexo tem que ser tratado com naturalidade desde a infância, na relação entre pais e filhos. “O diálogo sobre sexo deve iniciar quando a criança mostra curiosidade sobre o assunto. Não tem idade ou momento certo. Quando o filho começa a questionar e entender é hora de falar. Claro que tem que ser em uma linguagem que a criança entenda, nada além do que ela possa entender.”
A psicóloga Elaine Secchi Biancardi enfatiza a importância do diálogo aberto entre os membros da família. “É importante a quebra de tabus e um bom relacionamento da família, pautado na conversa e na confiança entre pais e filhos. Se existir um espaço aberto de diálogo dentro de casa, a criança ou o adolescente vai perguntar, e os pais terão mais facilidade em orientá-lo”, afirma a psicóloga.
O primeiro passo é sempre o diálogo. É a partir de uma conversa que a família consegue passar os princípios morais para os filhos e entrar num consenso sobre o comportamento do jovem. Também é conversando que o jovem descobre o que ele quer em relação ao sexo. “Hoje muitos adultos se preocupam em orientar os adolescentes quanto ao risco de não usar preservativos, de uma gravidez, mas eu acredito que o objetivo maior, o foco de nós como orientadores, é questionar ao jovem o que ele quer exatamente com a sexualidade. Se isso vai ser uma coisa boa, se vai completar ele. E o uso da camisinha, por exemplo, vem como consequência, porque ele vai querer ter prazer mas não vai querer ter filho”, afirma Vânia.
Outra ação importante é nunca olhar de forma pejorativa qualquer gesto ou fala da criança e do adolescente sobre o assunto. “Na adolescência o corpo está passando por transformações, e por conta disso está cheio de vontades e desejos, e isso é extremamente saudável. Mas, muitas vezes, por interpretações equivocadas dos pais, todas essas vontades são dimensionadas de forma pejorativa e isso desestrutura a iniciação sexual”, defende Elaine.
A masturbação também deve ser tratada com cautela por parte dos orientadores. Vânia afirma que a masturbação é o início de uma vida sexual e deve ser discutida com os adolescentes. “A masturbação deve ser encarada como autoconhecimento, autoerotismo, porque antes de você conhecer o outro você tem que se conhecer, é a lógica do processo. Então os pais não devem recriminar esse ato, mas orientar. Orientar de uma maneira que não valorize, não estimule a prática.”
A escola exerce um papel importante na educação sexual. Elaine lembra que como a adolescência é um período conturbado, o jovem muitas vezes procura referências fora de casa e a escola é o segundo vínculo do adolescente. “Nessa fase, os pais deixaram de ser os super-heróis e por isso os filhos buscam outras referências. A escola é um local interessante para se trabalhar essa perspectiva de uma forma adequada, que não trará prejuízos aos jovens”, conclui a psicóloga.